Biografias
Allan KardeC
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
1804
- (3/10) - Nascimento de Hippolyte-Léon Denizard Rivail, o futuro Allan Kardec,
em Lyon, a segunda maior cidade francesa depois de Paris. Seus pais foram
Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, e Jeanne Louise Duhamel, residentes
à Rue Sale, 76; essa casa foi demolida ainda em meados do século XIX. (AK I
29)
1815
- Rivail segue para o Instituto de Johann Heinrich Pestalozzi para continuar
seus estudos. O Instituto ficava na cidade de Yverdon, Suíça, e funcionava em
regime de internato. Os alunos recebiam ali educação integral esmerada,
segundo inovador método pedagógico do famoso professor, baseado na convicção
de que o amor é o eterno fundamento da educação. (AK I caps. 2 a 11 e 15)
1822
- Rivail deixa Yverdon e instala-se em Paris. Não há certeza plena sobre essa
data. Sabe-se que em janeiro de 1823 já residia à Rue de la Harpe, 117.
Confirma-se também que pelo menos de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, 65.
(AK I caps. 12 e 21)
1824
- Rivail publica o seu primeiro livro didático, o Cours pratique et théorique
d'arithmétique, concebido segundo o método pestalozziano. Foi publicado em
Paris na Imprimerie de Pillet Ainé, Rue Christine, 5. (AK I caps. 14 e 16)
1825
- Rivail funda a sua primeira escola, a École de Premier Degrée. (AK I cap.
18)
1826
- É fundada a Institution Rivail, instituto técnico, sito à Rue de Sèvres,
35; funcionou até 1834. Neste mesmo local existiria depois o Lycée
Polymathique, dirigido também por Rivail, até 1850, quando foi cedido a A.
Pilotet. A partir dessa data o Prof. Rivail não mais exerceria atividades didáticas.
(AK I cap. 19 e pp. 131, 145 e 146)
1828
- Rivail dá a público o "Plan proposé pour l'amélioration de l'éducation
publique", sugerindo diretrizes para a educação pública. (AK I cap. 21)
1831
- Aparece, da autoria de Rivail, a Grammaire Française Classique sur un nouveau
plan. (AK I cap. 22)
1832
- Casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), que seria sua dedicada
companheira e apoio de todos os momentos, até a sua desencarnação. Conhecida
mais tarde entre os espíritas como "Madame Allan Kardec", Amélie-Gabrielle
era professora e colaborou com o esposo em suas atividades didáticas. Nunca
tiveram filhos, conforme explicitamente se lê na Revue Spirite de 1862. (AK I
cap. 20, III 45)
Rivail
e sua esposa foram pessoas dignas, de moralidade inatacável, dedicando-se
integralmente ao cultivo dos ideais superiores da cultura, da educação, do
bem. Lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para
meninas. Rivail ministrou por muitos anos cursos gratuitos para crianças
pobres. Além de mestre, foi sempre amigo dos alunos. (AK I cap. 23 a 29)
Do
ponto de vista material, o casal Rivail levou vida simples, não raro
enfrentando dificuldades econômicas. Na fase espírita, seus parcos recursos
seriam empregados na publicação das obras iniciais e em outras despesas
referentes ao Espiritismo. Nos anos de maiores limitações, Rivail complementou
sua receita com empregos temporários modestos, como o de contador. (AK I cap.
33)
Há
referências seguras de cerca de 21 textos publicados pelo Prof. Rivail, entre
livros didáticos e opúsculos diversos referentes à educação. (AK I cap. 37)
Rivail
possuía sólida erudição, conhecendo bem as diversas ciências, a
filosofia e as artes. Traduziu obras alemãs e inglesas para o francês, e
vice-versa. Foi membro de diversas academias culturais, possuindo vários
diplomas. (AK I caps. 22, 30, 35)
Contrariamente ao que afirmou Henri Sausse, e alguns mantém até hoje, Rivail não foi médico (AK I cap. 31). Também não há evidência de que tenha sido maçon, sendo mais razoável assumir que não o foi (AK I cap. 32).
Das observações iniciais à primeira edição de O Livro dos Espíritos
1848
- Início dos famosos fenômenos espíritas que envolveram a família Fox, em
Hydesville (EUA). A 28 de março verificam-se as primeiras manifestações físicas;
três dias após, estabeleceu-se a primeira comunicação tiptológica. Em
poucos anos, fenômenos semelhantes passaram a chamar a atenção pública não
somente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Foi a fase das chamadas
"mesas girantes". (AK II 49-60; ver também As Mesas Girantes e o
Espiritismo, de Zêus Wantuil, publicado pela FEB.)
1854
- Rivail é informado pelo Sr. Fortier, magnetizador seu conhecido, acerca da
ocorrência dos fenômenos das mesas girantes. Embora estranhando-os, não os
julgou impossíveis, já que poderiam ter alguma causa física ainda não bem
determinada. No entanto, algum tempo depois esse mesmo Sr. Fortier lhe disse que
as mesas também "falavam", isto é, davam sinais de inteligência. A
reação agora foi cética: "Só acreditarei quando o vir e quando me
provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa
tornar-se sonâmbula." (OP 265; AK II 62)
1855
- No início desse ano, o Sr. Carlotti faz-lhe longo relato dos singulares fenômenos.
Embora Rivail o conhecesse há 25 anos, mais uma vez expressa reservas, dado o
temperamento exaltado do amigo, tão em oposição ao seu. (OP 266; AK II 124)
1855
- Em maio, Rivail vai, em companhia de Fortier, à casa da Sra. Roger, sonâmbula,
onde conhece o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison. Este lhe fala dos fenômenos,
mas com seriedade e frieza, o que o predispõe, finalmente, a observar os fatos.
(OP 266)
1855
- Assim foi que, ainda em maio, a convite de Pâtier, Rivail assiste a algumas
experiências na casa da Sra. Plainemaison, sita à Rue Grange-Batelière, 18.
Rivail impressiona-se com os fenômenos, que se verificavam em condições
"que não deixavam lugar para qualquer dúvida. [...] Havia ali um fato que
necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia naquelas aparentes
futilidades [...] qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova
lei, que tomei a mim estudar a fundo."(OP 267; AK II 64)
1855
- Numa dessas reuniões, conhece a família Baudin, então residente à Rue
Rochechouart (a partir de 1856 iria para a Rue Lamartine; ver AK 64). Convidado
pelo Sr. Baudin, passou a freqüentar assiduamente as sessões semanais que se
realizavam em sua casa. Os médiuns eram as filhas do casal, Caroline e Julie,
que no início escreviam com o auxílio de uma cestinha. De numerosas e frívolas
que eram, sob a influência de Rivail as reuniões passaram a reservadas e sérias,
dedicadas à pesquisa racional e metódica do novo domínio. "Compreendi,
antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles
fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e
do futuro da humanidade [...]. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e
nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspecção, e não
levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir"
(OP 267-68; AK II 64). Rivail submetia aos Espíritos séries de questões
visando a elucidar problemas relativos à filosofia, à psicologia e à natureza
do mundo invisível. Um grupo de intelectuais encarregou-o de analisar e joeirar
cerca de 50 cadernos com comunicações espirituais diversas. (AK II 71, 68 e
125)
1856
- Nesse ano passou a freqüentar também as reuniões espíritas da casa do Sr.
Roustan, na Rue Tiquetonne, 14. A médium era a Srta. Japhet, sonâmbula. As
anotações de Rivail, provenientes em grande parte das comunicações obtidas
pelas Srtas. Baudin, tomaram as proporções de um livro, embora se saiba que
por volta de abril ainda não estava claro para ele que deveria ser um dia
publicado (OP 276). Depois que isso se tornou evidente, foi por intermédio da
Srta. Japhet que os Espíritos auxiliaram Rivail a fazer uma revisão completa
do texto já elaborado. Era o Livro dos Espíritos. (OP 270, 276 e 277; AK II
72)
1856
- A 30 de abril, pela mediunidade da Srta. Japhet, Rivail tem a primeira notícia
de sua missão, em linguagem bastante alegórica. Outras se seguiram, de cunho
mais positivo. O conjunto dessas comunicações e, principalmente, os comentários
de Rivail indicando sua reação, constitui leitura obrigatória para todo espírita,
por sua beleza e elevada significação. (OP 277-87; AK II 69 e 72)
1857
- No início desse ano o texto manuscrito de O Livro dos Espíritos está concluído;
o editor, E. Dentu, envia-o à Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, que
dista 23 km de Paris, a oeste (AK II 73 e 75). As despesas correm inteiramente
por conta de Rivail (AK II 257). O casal Rivail residia então à Rue des
Martyrs, 8, no segundo andar, nos fundos do pátio, onde estava pelo menos desde
março de 1856 (OP 273).
1857
- A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de O Livro dos Espíritos (Le
livre des Esprits). Contendo os princípios da doutrina espírita sobre a
natureza dos Espíritos, suas manifestações e suas relações com os homens;
as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito
sob o ditado e publicado por ordem de Espíritos Superiores por Allan Kardec.
Paris, E. Dentu, Libraire, Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13.
Essa primeira edição contém 501 questões, distribuídas em 3 partes (176 pp.). Afora a tábua dos capítulos, há um útil índice analítico ("Table alphabétique"). Não há conclusões; apenas um Epílogo, de menos de uma página. As notas de Rivail, em número de 17, vêm todas no final, ocupando 12 páginas. Ao longo de toda a primeira parte ("Livre premier. Doctrine spirite.") adota-se uma forma de exposição dupla: na coluna da esquerda, perguntas e respostas; na da direita, o texto corrido equivalente. É nesta obra que Rivail adota o pseudônimo de Allan Kardec nome que teria tido em antiga encarnação entre os druidas, sacerdotes do povo celta, que ocupou a Gália, a Grã-Bretanha e a Irlanda (AK II 74-80). No Epílogo, anuncia-se para breve a publicação de um suplemento, contendo novos ensinos. No entanto, Kardec acaba desistindo da idéia, elaborando, em seu lugar, uma segunda edição "inteiramente refundida e consideravelmente aumentada", que viria a público em março de 1860 (ver seção 6 deste nosso trabalho). Em 1957 Canuto Abreu publicou edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos, sob o título O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo, Companhia Editora Ismael).
A Revista Espírita (Revue Spirite)
1858
- A 1o
de janeiro Kardec lança o primeiro número da Revista Espírita (Revue
Spirite), jornal de estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações
materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., assim
como todas as notícias relativas ao Espiritismo. O ensino dos Espíritos sobre
as coisas do mundo visível e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral,
a imortalidade da alma, a natureza do homem e seu porvir. A história do
Espiritismo na Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo;
a explicação das lendas e crenças populares, da mitologia de todos os povos,
etc. Paris; bureau à Rue des Martyrs, 8.
O
primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie de Beau, em
Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira O Livro dos Espíritos; as
despesas, como no caso desse livro, também ficaram por conta e risco de Kardec
(AK III 21-33; II 76). A Revista era de periodicidade mensal e durante a vida de
Kardec funcionou em sua própria residência, ou seja:
01 /1/1858 - Rue des Martyrs, 8.
15/7/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59).
01/4/1869 - Nessa data estava
programada a transferência dos Escritórios e do Expediente para a Librairie
Spirite,* Rue de Lille, 7, que também sediaria provisoriamente a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação iria para a Villa Ségur (Av. de Ségur,
39), casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria
com a dedicada esposa. (AK III 21-24, 35-37, 118-19; II, pp. 24-25)
Era
Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua correspondência
e expedição, trabalho hercúleo suficiente para consumir todo o tempo de uma
pessoa ordinária. E isso era apenas uma parte de seus trabalhos, havendo ainda
os livros, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as centenas de
visitantes anuais, as viagens.
A
Revue Spirite constitui rico manancial doutrinário, pouco explorado pelos espíritas.
Os originais franceses, ainda necessários para pesquisas cuidadosas, são raríssimos
em todo o mundo. Kardec discorre sobre a idéia da criação da Revista em OP
293-94. Em suas própria palavras, ela tornou-se-lhe "poderoso
auxiliar" na elaboração da doutrina e na implantação do movimento espírita
(AK III 22; OP 294). Seus objetivos principais eram (AK III 21-33; II 24-25):
Veicular
relatos e análises espíritas de fenômenos espíritas, psicológicos,
sociológicos etc.;
Publicar
produções mediúnicas selecionadas, obtidas na SPES ou enviadas por
correspondentes;
Sondar
a opinião dos homens e dos Espíritos sobre princípios em elaboração;
Comentar,
à luz do Espiritismo, artigos de jornais, obras literárias, filosóficas e
científicas.
Kardec editou a Revue até o número de abril de 1869, inclusive. Após a morte de Kardec (31/3/69) ela continuou sendo publicada, graças ao idealismo da Senhora Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (AK III 153-57; Reformador, 09/1990, p. 286). A partir de 1913, aditou-se ao título da revista o artigo 'la' ('a'), que ficou, desde então 'La Revue Spirite' (AK III 32 e 47). Em lamentável decisão, foi extinta em 1976 por André Dumas, junto com a Union Spirite Française, para dar lugar a Renaître 2000 e a Union des Sociétés Francophones pour l'Investigation Psychique et l'Étude de la Survivance (USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida e firme direção de Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços para salvá-la em 1977, não obtendo sucesso (AK III 45-57). Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone, com sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o título, retomando a publicação da Revue, com periodicidade trimestral.
A Société Parisienne des Études Spirites (SPES)
1857
- Por volta de outubro desse ano iniciaram-se reuniões espíritas na residência
do casal Allan Kardec, à Rue des Martyrs, 8. Aconteciam às terças-feiras à
noite, e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o número crescente
de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um local mais amplo. A solução
encontrada foi alugar uma sala, cotizando-se as despesas entre as pessoas. (OP
294-95; AK III 34)
1858
- A 1o de abril
é fundada legalmente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou, em francês,
Société Parisienne des Études Spirites, cujo título Kardec freqüentemente
abreviava para 'Societé Spirite de Paris', 'Societé des Études Spirites', ou
mesmo 'Societé de Paris'.
Foi
nas reuniões semanais da Société que boa parte das atividades mediúnicas e
de estudo supervisionadas por Kardec se desenvolveram. As portas da SPES não
eram abertas ao público, conquanto houvesse "reuniões gerais" em que
visitantes apresentados por membros da Société podiam ser admitidos; essas
reuniões se alternavam, semanalmente, com as "reuniões
particulares", às quais somente os sócios tinham acesso. Isso se
compreende perfeitamente, dados os objetivos das reuniões, ligados
essencialmente à pesquisa teórica e experimental dos fenômenos. A Société
era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da doutrina espírita. (OP
294-95; AK III 34-44; II 36-37)
Durante
a vida de Kardec, a Sociedade Espírita de Paris ocupou três endereços (OP
295; AK III 35-37 e 118):
01
/4/1858 - Galerie de Valois, 35, no Palais Royal. As reuniões eram às terças-feiras.
O Palais Royal é importante edifício histórico situado ao lado do Louvre. Foi
construído pelo Cardeal Richelieu no século XVII. Suas elegantes galerias
externas, que circundam o jardim (Montpensier, de Beujolais e de Valois), foram
mandadas construir por Louis-Philippe d'Orléans, na segunda metade do século
seguinte. Na Galerie d'Orléans (do séc. XIX) ficavam as livrarias de Dentu (no
13) e Ledoyen (no
31), que editaram várias das obras espíritas de Kardec (ver adiante).
01/4/1859
- Galerie Montpensier, 12, no Palais Royal (num salão do restaurante
Douix). Nesse local SPES reunia-se às sextas-feiras.
20/4/1860
- Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59). Nesse mesmo endereço, a partir de
15 de julho, passa a residir Kardec, que levou consigo a Revue Spirite.
Embora por essa época já possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur,
Allan Kardec viu-se na contingência de se alojar nesse apartamento com a
abnegada esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu
minguado tempo.
01/4/1869
- Estava programada para essa data a transferência provisória da Société
para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7.
As outras obras importantes de Allan Kardec
Fornecemos
a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec (além de O
Livro dos Espíritos, de que já tratamos; para uma lista possivelmente
completa, ver AK III 15, 18 e 19). Algumas das informações referentes a dias e
meses das publicações foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições
em francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos; em alguns casos, há
nas livrarias outras edições. Abreviaremos os dados referentes aos editores
originais segundo estas convenções (note-se que várias das obras saíram por
mais de um editor):
Dentu
E. Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13.
Ledoyen
Ledoyen, Libraire. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 31.
Didier
Didier et Cie., Libraires-Éditeurs. Quai des Augustins, 17.
1858
- Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (Instruction pratique
sur les manifestations spirites). Contendo a exposição completa das condições
necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios de se desenvolver a
faculdade mediadora nos médiuns. Bureau
de la Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8; Dentu; Ledoyen.
Com
a publicação de O Livro dos Médiuns, em 1861, Kardec não mais fez imprimir a
Instruction (152 pp.), à época já esgotada, considerando-a superada, quanto
à abrangência, pela nova obra. É, porém, de significativo valor histórico;
hoje está novamente disponível em francês (Paris, La Diffusion Scientifique)
e em português, em tradução de Cairbar Schutel (in: Iniciação Espírita, 6a
ed., São Paulo, Edicel, 1977; também publicado pela Casa Editora O Clarim, de
Matão, em 1987).
1859
- O que é o Espiritismo (Qu'est-ce que le Spiritisme). Introdução ao
conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, contendo
o resumo dos princípios da doutrina espírita e respostas às principais objeções.
Ledoyen. [100 pp.
Edição
francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução brasileira recomendada: Rio,
FEB (não se indica o tradutor).
1860
- (março) - Segunda edição de O Livro dos Espíritos. Contendo os princípios
da doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e
suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e
o porvir da humanidade. Segundo o ensino dado pelos Espíritos Superiores com o
auxílio de diversos médiuns, recolhidos e ordenados por Allan Kardec. Segunda
edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada. Didier; Ledoyen.
Acima
do título, aparece agora a frase "Filosofia espiritualista". Essa
nova edição, que se tornou definitiva, tem 1019 questões, distribuídas em
quatro partes. São acrescentadas as Conclusões; não há mais índice alfabético,
infelizmente. A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das partes.
As notas vêm agora logo após as respostas dos Espíritos, sendo muitíssimo
mais numerosas; é fácil ver que muitas delas provêm do texto corrido da
primeira parte da primeira edição.
1861
- (15 de janeiro) - O Livro dos Médiuns (Le livre des médiums), ou guia dos médiuns
e dos evocadores. Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de
todos os gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com o mundo invisível,
o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos com que se pode
deparar na prática do Espiritismo. Para fazer seqüência ao Livro dos Espíritos.
Didier; Ledoyen. [498 + iv pp.; AK III 173]
1861
- Segunda edição de O Livro dos Médiuns. Revista e corrigida com o concurso
dos Espíritos, e acrescida de grande número de instruções novas. Didier;
Ledoyen. [510 + viii pp.]
Edição
francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição brasileira recomendada: FEB,
tradução de Guillon Ribeiro, inteiramente revista a partir da 59ª edição.
1862
- (fevereiro) - O Espiritismo na sua Expressão mais simples (Le Spiritisme à
sa plus simple expression). Exposição sumária do ensino dos Espíritos e de
suas manifestações. Ledoyen. [36 pp.]
Em 1994 esse opúsculo foi reeditado pelo Centre d'Études Spirites Allan Kardec, de Paris. Existem várias traduções para o vernáculo, sendo hoje disponíveis as de Dafne R. Nascimento, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel, 1977).
1862
- Viagem Espírita em 1862 (Voyage spirite en 1862). Contendo: 1. As observações
sobre o estado do Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan Kardec nos
diferentes grupos; 3. As instruções sobre a formação dos grupos e das
sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas. Ledoyen. [64
pp.]
Esse
livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions Vermet; no Brasil, em Matão,
pela Casa Editora O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues. Em nenhuma
dessas edições constam dizeres após o título; tomamo-los de AK III 18, onde
não se esclarece se estavam nas edições originais. Afora as mencionadas
instruções e regulamento, o corpo da obra consiste de três discursos
proferidos por Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux em sua famosa viagem.
1864
- (abril) - Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo (Imitation de l'Évangile
selon le Spiritisme). Contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua
concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições da
vida. Por Allan Kardec, autor do Livro dos Espíritos. Fé inabalável só o é
a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
Paris, os editores do Livro dos Espíritos; Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri,
livreiros, no Palais Royal, e no escritório da Revue Spirite, Rue e Passage
Sainte-Anne, 59.
Essa
obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine,
30, possui 444 páginas. É precursora de O Evangelho segundo o
Espiritismo, e não mais seria impressa por Kardec após a publicação deste,
em 1866. No entanto, é de grande valor histórico, sendo essa a razão pela
qual em 1979 a FEB reeditou-a em reprodução fotográfica. Não temos notícia
de outras edições recentes, nem de traduções. Naturalmente, 'imitação'
aqui não se deve entender no sentido hoje popular, de 'cópia', mas no de 'prática'
(ver a introdução de Hermínio Miranda à edição febiana para
esclarecimentos adicionais).
1865
- (1o de agosto) - O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o
Espiritismo (Le ciel et l'enfer, ou la justice divine selon le Spiritisme).
Contendo o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à
vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as
penas eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da
alma durante e depois da morte. "Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus,
que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau
caminho e que viva." (Ezequiel, 33:11). Paris; os editores de O Livro dos
Espíritos, Librairie Spirite.
Em
nossos dias, está disponível edição belga da Éditions de l'Union Spirite. A
tradução da FEB é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK III 108 faz menção
à "21a edição, revista, 1974.)
1866
- O Evangelho segundo o Espiritismo (L'Évangile selon le Spiritisme).
Os
dizeres da página de rosto são idênticos aos de L'Imitation, exceto pela data
e pela frase "Terceira edição, revista, corrigida e modificada". Vê-se,
portanto, que Kardec considerava esta obra uma nova edição da anterior, apesar
da simplificação do título. Segundo se lê no prefácio de Thiesen à edição
da FEB de L'Imitation, a segunda edição, de 1865, seria apenas outra tiragem
do primeiro livro. No entanto, em AK III 18 esse mesmo autor escreve: "Da 2a
ed. - 1865 - em diante, essa obra tomou novo título...". Para que esta última
informação seja compatível com a anterior, deve-se entender aqui '2a
edição exclusive'.* De qualquer modo, é a terceira edição que se tornou
definitiva, servindo de base para as edições posteriores em francês e nos vários
idiomas em que foi traduzida. Também devido à sua raridade e seu valor histórico,
a FEB lançou, em 1979, uma reprodução fotográfica dessa edição. Na França,
é hoje em dia publicada por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução
clássica recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente revista a
partir da 104a edição.
1868
- (6 de janeiro) - A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo
(La genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme). Paris,
Librairie Internationale. *
Esse
foi o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado hoje em edição
da La Diffusion Scientifique, de Paris. A corrente edição da FEB foi traduzida
por Guillon Ribeiro.
1890
- (janeiro) - Obras Póstumas (Œuvres Posthumes). Paris, Société de Librairie
Spirite. [450 pp.]
Editado
por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes textos de Kardec,
quer de caráter teórico, sobre diversos assuntos, quer sobre fatos relativos
às atividades espíritas do mestre. Em AK III 19 lê-se que uma segunda edição
veio a lume ainda no mesmo ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro para a
FEB, a partir da primeira edição francesa. A edição atual da Dervy-Livres
conta com controversos comentários, introdução e notas de André Dumas.
Consoante
ao objeto deste nosso trabalho, a lista acima contém apenas os textos mais
importantes e, sobre eles, apenas algumas informações básicas. O volume III
da obra Allan Kardec é de consulta obrigatória para o estudioso que queira
acercar-se da fonte mais extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção
de Kardec.
A partida de Allan Kardec e alguns acontecimentos posteriores
1869
- (31 de março) - Desencarna subitamente Allan Kardec, enquanto atende a um
caixeiro de livraria, no seu apartamento da Rue Ste.-Anne, muito provavelmente
vitimado pela ruptura de um aneurisma de aorta (AK III 110, 116 e 119). No dia
seguinte, deveria desocupar esse imóvel, indo para a casa da Villa Ségur; os
escritórios da Revue iriam para a Rue de Lille, Librairie Spirite, que sediaria
também a SPES.
O
corpo foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de Montmartre.
Estima-se que mais de mil pessoas acompanharam o cortejo, que seguiu pelas ruas
de Grammont, Laffitte, Notre-Dame-de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de
Clichy. À beira da sepultura, Camille Flammarion, astrônomo e médium da SPES,
pronunciou o seu importante discurso, que a FEB fez figurar na sua edição de
Obras Póstumas. Na primeira reunião da SPES após esse fato, os membros
presentes lançaram a idéia de se levantar um monumento ao mestre, que logo
recebeu adesão de espíritas de muitas cidades. Foi assim que se fez construir
o famoso dólmen do cemitério Père-Lachaise, para onde os restos mortais de
Kardec foram transladados a 29 de março de 1870.
1870
- (31 de março) - Inaugura-se o monumento druida do Père-Lachaise. Esse famoso
cemitério é considerado museu, tendo sido ali sepultados inúmeros dos grandes
vultos franceses e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais
visitado e o mais florido de todos.
Quando
de sua inauguração, o dólmen não registrava a célebre frase "Nascer,
morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei", que foi
insculpida ainda em 1870. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, essa
frase não se deve textualmente ao próprio Kardec, não obstante represente
corretamente o pensamento espírita (AK III 118-152).
1871
- ( junho) - Pierre-Gaëtan Leymarie assume a gerência da Revue e da Librairie
Spirite (AK III 157).
1875
- Vêm à público as primeiras edições brasileiras de livros de Kardec
(excetuando-se o já citado opúsculo O Espiritismo na sua Expressão mais
simples, publicado em São Paulo em 1862; ver nota no 10, acima): O
Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno, traduzidos por
Fortúnio, pseudônimo do Dr. Joaquim Carlos Travassos. No ano seguinte também
apareceria, pelo mesmo tradutor, O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Editor
dessas obras foi B. L. Garnier, do Rio de Janeiro. (AK III 175-80)
1883
- (21 de janeiro) - Morre Madame Allan Kardec. Dois dias após seu corpo é
sepultado junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o féretro de sua casa
na Villa Ségur. Amélie-Gabrielle Boudet nascera em 1795, a 23 de novembro, e não
a 21, como se insculpiu no túmulo. (AK III 158-60)
1883
- (21 de janeiro) - Fundação da revista Reformador, por Augusto Elias da
Silva.
1884
- (2 de janeiro) - Fundação da Federação Espírita Brasileira, também por
Augusto Elias da Silva.
1898
- A Revue muda-se da Rue du Sommerard, 12 para a Rue St. Jacques, 42, onde
permaneceu por algumas décadas; no local existe hoje a Librairie Leymarie, que
pertenceu a Pierre-Gaëtan Leymarie. (AK III 226-27)
1923
- Jean Meyer funda a Maison des Spirites, na Rue Copernic, 8 (AK I 172; cf. porém
AK III 203 ). Continha arquivos importantes que foram destruídos pelos
nazistas. Sediou a Éditions Jean Meyer (B.P.S), que publicou muitas das obras
clássicas do Espiritismo, bem como a Revue, de 1923 a 1971, quando morreu
Hubert Forestier (AK III 227).