artigo da semana

-A RAZÃO EM BUSCA DA FÉ-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Primeira parte

 

Capítulo II

 

Para os que têm o consolo de crer em Deus e na imortalidade do Espírito, a salvação da alma é o que há de maior monta - a única coisa verdadeiramente importante. E se nos assuntos transitórios, como podemos chamar os que se referem ao nosso bem-estar puramente material, não nos confiamos a mãos estranhas e queremos intervir e assegurar-nos por nós mesmos da sua gestão e resultados, não é censurável, antes é de justiça, de prudência e de razão que, tratando-se do estado ulterior das almas, que nos tem sido apresentado como definitivo, procuremos adquirir diretamente a necessária certeza, quando no-la possa dar a luz da nossa razão. Bom é que cada um desconfie prudentemente de si próprio e renda à autoridade dos doutores da Igreja a homenagem de respeito que merecem nas questões religiosas; mas, daí à abdicação completa do critério individual, vai enorme distância. Bom é, nas excursões científicas, seguir as pegadas dos sábios; nunca, porém, com uma venda nos olhos, pois o cego não pode compreender a beleza dos fenômenos que o seu guia lhe descreve, nem evitar o abismo em que um e outro podem precipitar-se, pelas distrações e abstrações daquele. Queremos salvar-nos, e a salvação parece-nos arriscada quando a alma cerra os olhos para procurá-la. Por isso, procuramos abri-los, seguros de que a religião e a moral verdadeiras nada podem temer da ciência; temos pedido à ciência: a verdade da moral e da religião em que nos educaram, a confirmação do Catolicismo, da Igreja em que se formaram as nossas crenças. Obedecia esta conduta ao desejo de encontrar motivos para combater os fundamentos religiosos que nos legaram nossos pais? Não, certamente. Tínhamos tido momentos de dúvida, de incerteza, de ansiedade, relativas à questão capital do destino ulterior do homem, momentos que, bem a nosso pesar, se reproduziam e nos fustigavam frequentemente; e, como a fé cega não bastava para tranquilizar-nos, corremos a buscar armas com que robustecêssemos a nossa fé e fizéssemos face aos assaltos da dúvida. 6 É muito cômodo dizer crede; é sumamente difícil crer o que a razão não aceita. Em vão se esforçarão os médicos por persuadir o enfermo de que a sua saúde melhora, se este, cada dia, se sentir mais debilitado e abatido. Que se diga crê ao mesmo tempo em que se recomende o estudo das crenças impostas, isto sim, compreende-se; mas, impor a fé e negar o direito de lhe procurar os fundamentos, é motivo suficiente para se suspeitar da recomendação. Dizei a um homem, no pleno gozo dos seus sentidos, que cerre os olhos para sempre, sob promessa de que outros se encarregarão de ver por ele e de guiá-lo - e ele zombará da vossa singular proposta. E querer-se que a gente, no perfeito gozo de sua razão, renuncie completamente a seu uso e dela abdique, precisamente no que há de mais transcendental, para deixar-se levar pela razão de outrem! Ameaçais a alma com uma pena sem apelação e com uma sorte definitiva após a vida corporal; deixai, pois, que as nossas almas meditem profundamente sobre os seus passos e estudem a sua missão e deveres com toda a luz possível, a fim de não se extraviarem nos desvios da vida. Quem não faz isto, confessa-se néscio ou imprudente e temerário.

 

Do livro Roma e o Evangelho, traduzido do original espanhol conforme os direitos concedidos à Federação Espírita Brasileira. Extraído da página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf

 

Fortaleza,CE, 23/12/2021.