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-RAZÃO DAS NOSSAS CRENÇAS PRIMITIVAS - INSUFICIÊNCIA DAS CRENÇAS QUE SE BASEIAM NA FÉ CEGA POR QUE SOMOS CATÓLICOS ROMANOS?-

Por Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

CAPITULO IV

 

Tal foi à primeira pergunta que formulamos, como primeiro ato de nossa independência religiosa. Para responder e discorrer sem paixão, foi preciso varrer todo o espírito de seita, como o devem fazer quantos desejam investigar a razão das suas crenças. Somos católicos, ouvimos dizer, porque o foram nossos pais, porque o era o país em que nascemos, porque o foi a nossa educação, porque nos ensinaram a discorrer com o critério católico, porque só o Catolicismo, entre as religiões, tinha carta de cidade no nosso solo, porque, não ser, era incorrer no desprezo de muitos dos nossos concidadãos e nas iras de um clero prepotente, porque nos tínhamos convencido, à força de ouvi-lo, que fora dele não há salvação, porque temíamos a cólera do Senhor, as unhas afiadas de Luzbel (7) e as fogueiras do inferno com que se ameaçava os que não reconheciam a autoridade do que se assenta na cadeira de Pedro, isto é: na cadeira em que Pedro nunca se sentou; porque, finalmente, não deixávamos de entrever uma grande luz, um grande ensino e um grande fundo de verdade na religião romana. Basta, porém, isto, para justificar o nosso catolicismo? Não o podem contestar, em idênticos termos, os sectários das religiões primitivas? Também neles têm influído as circunstâncias de nascimento e educação, o egoísmo, a influência clerical ou sacerdotal, a esperança da salvação das suas almas, e o temor de terríveis castigos na vida de além-túmulo — e também eles entreveem algo divino e verdadeiro no fundo das suas crenças religiosas. Em tal caso, é preciso convir que não nos assistem, para sermos católicos, razões mais poderosas que as que podem alegar os judeus, os budistas, os sectários do bramanismo, os maometanos e os filiados às diferentes seitas em que se acha dividida a religião cristã. E havemos de convir igualmente que, para afirmarmos que as nossas crenças são as únicas verdadeiras, nos apoiamos nas mesmas razões que os filhos dos demais cultos invocam, para sustentarem que as únicas crenças verdadeiras são as suas. Em suma, chegamos à conclusão de que éramos católicos romanos por sentimento, em virtude de uma série de circunstâncias que se agruparam em torno de nós, independentes da nossa vontade, alheias à nossa iniciativa. Católicos sem convicção, sem aquela convicção que penetra suavemente na alma por todas as suas avenidas, sem a convicção que é o resultado progressivo da comparação e da comprovação, sem a firme convicção que procede da harmonia das leis dos fatos com o juízo e da harmonia do juízo com a consciência. Haverá católicos em grande número, que o sejam por este último critério. E semelhante catolicismo, o geral, seja dito sem intenção de ofender, poderá satisfazer? Podia ele servir-nos de ponto de partida, de primeiro degrau, para o nosso ensaio filosófico-religioso; mas faltava-nos a convicção, e uma voz poderosa, a da consciência e do dever, repetia-nos sem cessar: buscai a convicção, porque, sem ela, a fé é desprovida do mais legítimo dos seus títulos; a moral, do mais eficaz dos seus apoios; a religião, do mais sólido dos seus fundamentos.

 

(7) Literalmente, "bela luz"; Lúcifer, Satanás - N. E

 

Do livro Roma e o Evangelho, traduzido do original espanhol conforme os direitos concedidos à Federação Espírita Brasileira.

 

Extraído da página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf

 

 Fortaleza,CE, 06/01/2022.