artigo da semana

-ROMA NÃO É A IGREJA DE JESUS - UM SÓ REBANHO E UM SÓ PASTOR-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Capítulo IX

 

Primeira parte

 

Desconsolador é o quadro que em nossos dias oferece a sociedade católica romana. Contra ela prevalecem as portas do inferno, toda a vez que em seu seio se desenvolvem as ruins tendências — e à sua sombra e calor, todas as ambições fermentam, todas as más paixões se nutrem e se robustecem. E, pois que as portas do inferno não podem prevalecer contra a verdadeira religião cristã, que é a que reconhece por única lei o Evangelho, concluímos que não é Roma a legítima expressão da igreja estabelecida pelo Filho de Maria. Onde, pois, encontrareis o Cristianismo em sua pureza? Em nosso sentir, a igreja do cristão não é nenhuma dessas igrejas estreitas, que disputam encarniçadamente a supremacia sobre as consciências e o predomínio temporal, igrejas mesquinhas, que fazem consistir o essencial da religião no conjunto de exterioridades e fórmulas mais ou menos inaceitáveis ou ridículas, igrejas exclusivistas, que condenam a sofrimentos eternos a imensa maioria dos homens e se apoderam do céu como país conquistado, igrejas que grosseiramente arremedam as parcialidades políticas, reservando exclusivamente para seus adeptos e apaziguados as delícias celestiais, igrejas fátuas e orgulhosas, que a si próprias atribuem a posse absoluta da verdade e a infalibilidade do seu critério, igrejas, enfim, que fazem o monopólio de todos os dons com que a Bondade infinita enriquece a Humanidade inteira. A Igreja do Cristo há de ser algo mais, mais e muito melhor que tudo isto. Maior que Roma, maior que Lutero, maior que Mafoma, maior que as demais igrejas que a si próprias dão o título de únicas verdadeiras. Dentro dela hão de caber todos os homens de boa-vontade(19), chamem-se judeus, protestantes, católicos ou maometanos; de outra sorte não seria baseada na justiça, nem seria universal, caracteres inseparáveis da religião divina. O judeu, o muçulmano, o protestante, o budista, o católico, o cismático, que ama a Deus em espírito e verdade e pratica a virtude, está com o Cristo(20) e dentro da verdadeira igreja. Não é cristão o que se diz tal, só porque recebeu a água do batismo, e sim o que abraça os ensinos do Cristo(21), ensinos que se simbolizam numa única palavra: caridade; isto é: amor a Deus e ao próximo.(22) Esta palavra, esta fórmula, este símbolo evangélico liga em um corpo único os homens de todos os países, de todas as raças, de todas as crenças, formando a igreja universal, a Igreja essencialmente cristã. Dia virá em que somente haverá um rebanho: a Igreja de Deus — e um só pastor: o Verbo, a palavra de Deus, o Evangelho, Jesus Cristo. Em toda religião há algumas coisas divinas, mescladas com impurezas humanas e como a luz vai manifestando e separando a verdade da mentira, o eterno e essencial do transitório e vão, chegará o dia em que todas as religiões se depurarão e formarão uma única.

 

(19) Eu vos digo que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e se assentarão com Abraão, com Isaque e com Jacó no reino dos céus. (Mateus, 8: 11)

(20) Mas Deus recebe todo o que o ama e pratica a justiça. (Atos dos Apóstolos, 10: 35.)

(21) Porque não é judeu o que o é manifestamente, nem é circuncisão o que se faz exteriormente na carne; mas é judeu e é circuncisão o que o é no interior. (Romanos, 2: 28 e 29.)

(22) Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Amarás teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas. (Mateus, 22: 37, 39 e 40.)

 

Publicado na página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf