artigo da semana

-O EVANGELHO - A NOVA ESCOLA - SEUS ADEPTOS-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Capítulo X

 

Primeira parte

 

A grande luz e o grande fundo de verdade que entrevemos na religião romana é o ensino de Jesus; o seu caráter moral denuncia divina origem; pelo que, tomamos por bandeira, para nossos estudos religiosos, o Evangelho — e, por mestre, Jesus Cristo. Que a sabedoria infinita nos ilumine; este é o desejo que sentimos e a súplica que elevamos. O Evangelho é a fonte das verdades morais e religiosas, e é fundamento da igreja cristã — da igreja da verdade; mas, assim como se deve ir buscar a água pura e cristalina, não na corrente, porém, sim, no manancial primitivo, assim também o puro Cristianismo deve ser procurado, não na corrente romana, mas sim em seu princípio — no manancial evangélico. As águas medicinais da verdade, puríssimas em sua origem: no Verbo, expressão do pensamento de Deus, correm adulteradas pela mescla do orgulho e da ignorância, e corrompidas e infeccionadas pelo fermento das misérias humanas. Remontemos, pois, ao manancial de que procede a corrente, convidando a nos acompanharem quantos sintam a necessidade de reparar os estragos de suas crenças, causados pela impureza do atual Catolicismo.

 

Tomando essa resolução, ouvimos dizer que se havia formado e propalado no mundo com incrível rapidez, uma escola filosófico-moral cujos adeptos já eram contados por dezenas de milhões, que pretendem restaurar o Cristianismo puro e explicar a religião pelo Evangelho de par com a Ciência. Será verdade? — dissemos. Será possível que do seio da Humanidade presente, tão perturbada em sua fé, se levante uma voz que arraste as consciências para a lua, uma filosofia que levante os ânimos, uma religião que, brotando do Evangelho, leve a convicção ao entendimento e a esperança ao coração? Deus dos céus! Que seja isto uma verdade — que não seja uma mistificação, um erro mais sobre tantos que disputam o império das almas!

 

Mais tarde ouvimos ainda que a nova propaganda era — por uns, qualificada de loucura, por outros, de aberração satânica — e que os filiados sofrem, impassíveis, o ridículo e os anátemas, compadecidos dos que os ofendem com seus sarcasmos ou os perseguem com suas maldições. Que o fundamento da sua religião era a caridade, na qual faziam consistir a moral e as ações humanas, e que a caridade era para eles o essencial do culto, apoiando-se em que o coração e as obras são os únicos e legítimos títulos de merecimento do espírito. Que pregavam recompensas e castigos espirituais em justíssima proporção com o bem ou o mal realizado durante a vida corporal. Que acreditavam na pluralidade dos mundos habitados, considerando a obra da criação, majestosa e grande, como emanação da sabedoria infinita, e na pluralidade de existências, como necessária ao desenvolvimento progressivo e gradual das criaturas, para chegarem à perfeição, que é o fim, e outro não pode ser, da lei a que todo o Universo obedece. E, por último, que, achando-se comprovada, desde a mais remota antiguidade, a comunicação do mundo espiritual com o dos encarnados — comunicação autorizada pelo Evangelho e confirmada por experiências recentes e indubitáveis,— é ela aceita, e os ensinos dos Espíritos são como fachos luminosos postos por Deus na senda da Humanidade, para alentá-la e guiá-la.

 

Ainda bem! Qual destes pontos e qual destas afirmações pode ter dado motivo a que seus defensores sejam motejados por loucos ou como instrumentos infernais? Achar-se-ão, por desgraça, tão obcecadas as consciências, que se julgue loucura recomendar-se a caridade, e conceito diabólico a ideia de um Deus infinitamente grande, infinitamente justo, infinitamente sábio, infinitamente misericordioso e bom? A ignorância e a malícia sempre se deram às mãos para rechaçarem a verdade e defenderem o erro. O próprio Jesus Cristo foi qualificado como louco, impostor e instrumento de Belzebu, por seus contemporâneos, e, por último, sofreu a morte, em testemunho da bondade da sua doutrina.

 

Publicado na página  https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf