artigo da semana
-OS ADEPTOS DA NOVA ESCOLA - OS DEFENSORES DA ÚLTIMA HORA DO CATOLICISMO ROMANO - CAMPANHA CLERICAL-
Por José Amigó e Pellícer
Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)
Capítulo XI
Primeira parte
Antes de condenar e antes de aceitar uma doutrina, é preciso estudá-la, a fim de não se incorrer na insensatez de abraçar ou combater uma coisa sem convicção e sem conhecimento dela; procedimento leviano e atoleimado. Antes de se arguir de malícia ou de loucura, é preciso certificar-se de modo irrecusável de que, na realidade, há loucura ou malícia no ponto obscuro de que se trata. Tomando esta norma, que nos pareceu a mais prudente e acertada, resolvemos certificar, por nós mesmos, e não de ouvido, como muitos o fazem, do que podia haver de verdade ou de falsidade na escola espírita, que é a nova escola filosófico-religiosa a que nos referimos sem então designá-la. Sabíamos que lhe estavam filiados muitos homens distintos por seu caráter, pela firmeza de suas convicções cristãs, por sua grande elevação no mundo das letras, por sua posição política e social, e que ela contava, no considerável número de seus adeptos, homens de todas as classes e condições, desde a mais humilde até a mais elevada; e, em verdade, essa circunstância muito concorreu para a nossa resolução de estudar o Espiritismo, entendendo que, se ele era uma loucura, não podia ser senão uma sublime loucura, pois que o abraçavam, e o faziam seu, inteligências tão privilegiadas e tão puros corações. Corríamos ao risco de ser vítimas do contágio; consolava-nos, porém, pensar que sofreríamos a qualificação na mais honrosa e judiciosa companhia. Tínhamos além disso observado que, entre os mais fervorosos advogados da Igreja Romana, nas discussões privadas que frequentemente se suscitavam a respeito da nova escola, figuravam não poucos homens de moralidade e crenças uma tanto suspeitas, homens que já haviam ridicularizado o Catolicismo, homens descrentes que sempre fizeram gala da sua incredulidade, homens do ouro, positivistas de ruim gênero, sem consciência, nem pudor, que tudo subordinavam à sua insaciável sede de bens e conveniências materiais. E, ao ouvirmos tais defensores da última hora falarem a favor das doutrinas de Roma, tão empenhados em se oporem à invasão da loucura espírita, sentimo-nos inclinados a suspeitar de que essa loucura condenava a sua licença, e de que eles estavam mais a gosto dentro da moral romana. Também excitou vivamente a nossa atenção a cruel guerra movida pelo clero às novas doutrinas, às quais se opõe com empenho muito maior e maior energia, do que ao materialismo, inimigo capital e o mais implacável de toda a crença religiosa. Concordando-se mesmo que a escola espírita não interprete fielmente o espírito do Evangelho, a verdade é que ela o aceita como base de suas crenças, só isto era bastante para que o clero romano limitasse a sua campanha a mostrar-lhe os erros e a atraí-la, com amor e mansidão, ao redil da ortodoxia. Longe porém de discutir com unção e brandura, ele rompe abertamente com os novos propagandistas, vitupera-os, insulta-os, amaldiçoa-os, apelida-os de instrumentos de Satanás — e, como tais, vomita sobre eles toda a bílis que pode caber em um coração nada cristão. Por que tanta tolerância com os apóstolos da matéria e tanta raiva com os espíritas que, afinal de contas, procedem do mesmo tronco que os partidários da infalibilidade papal? Quando falará a esfinge para revelar a razão de tão irregular e misteriosa conduta?
Publicado na página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf