artigo da semana

-O CATOLICISMO COMBATIDO PELA NOVA ESCOLA COM OS ENSINAMENTOS DO CRISTO - O ESPIRITISMO: SEUS PRINCÍPIOS - OS MERCADORES DO TEMPLO-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Capítulo XII

 

Primeira parte

 

Não é necessário que a esfinge fale; a chave das iras sacerdotais temo-la no estudo dos princípios e doutrinas que se propagam à sombra da bandeira desfraldada por Jesus há dezenove séculos, e que tem sido transformada em trapo pelos que a têm manuseado e explorado. Alguns homens de boa-vontade, persuadidos de que não pode ser verdadeira a religião que condena o progresso humano — a religião que repele as descobertas da Ciência; a religião que despoja Deus de seus essenciais atributos, fazendo-o coparticipante das misérias humanas, e leva certas e determinadas criaturas à categoria de deuses; a religião, enfim, que tem levado a descrença e a perturbação aos organismos sociais, procuraram uma tábua de salvação, uma luz que permitisse aos homens medir a profundeza do abismo que se abre em sua desalentada carreira, esta luz eles a encontraram nos ensinamentos do Cristo, no próprio Evangelho em que Roma pretende apoiar seus ensinos. E, como isto é destruir os abusos e erros com os próprios textos de que os fazem derivar, eis por que os interessados em sua continuação distinguem, com o mais cardeal furor, os atrevidos e indiscretos inovadores. Que lhes importa a eles a escola materialista? Pode esta ter por si a opinião pública, lutando, como luta, contra a consciência universal, contra as tradições, contra a necessidade, contra a filosofia, contra o sentimento, contra os desejos, contra as esperanças, contra as crenças de todos os povos? Não temem eles, portanto, os defensores da matéria — e abandonam-nos a seus esforços impotentes, concedendo-lhes, por muito favor, um olhar de compaixão e um sorriso de triunfo. Por mais que o materialismo procure destruir seu império, nada conseguirá, não colhendo senão provocar conflitos parciais e passageiros na economia social — conflitos que, em última análise, darão maior importância às classes sacerdotais, e torná-las-ão mais necessárias. Com o Espiritismo o caso é diverso. Esta escola não vem destruir, mas sim corrigir, restabelecer e bradar — Alerta! — a Humanidade que se afastou do verdadeiro caminho, a fim de que, reconhecendo seus extravios e reconhecendo o precipício que se abre sob seus pés, retroceda às vias retas do Evangelho. Não vem destruir o Cristianismo, mas restaurá-lo, varrendo dele as impurezas introduzidas pelos homens, em oposição às verdades pregadas por Jesus. Não vem abalar a sociedade por seus fundamentos, mas sim robustecê-los e firmá-los. Não traz na destra o facho da discórdia, dos ódios, das paixões revoltas, nem prega o egoísmo, o privilégio, a intransigência ou a rebelião, mas, humilde como seu Mestre, Jesus Cristo, ela chama os corações à humildade e à caridade, exalta o sofrimento e a resignação, desperta a esperança da felicidade, pela purificação dos sentimentos e pela prática do bem, e aponta com o dedo o Filho do Homem, como o mais completo modelo que os homens devem seguir. Uma escola de tão puros e benéficos princípios há de chamar a si todas as consciências honestas, todos os corações nobres, todas as inteligências independentes, que buscam a verdade na virtude; e isto é quanto basta para levar o alarme às tendas dos que não admitem outra verdade que não seja suas afirmações, e para convulsionar as iras dos que se sentiam bem com o monopólio do alimento espiritual. Estudai o século apostólico, vós que tendes olhos de ver, comparai a pobreza do episcopado daquele tempo, dos discípulos de Jesus, com a opulência do episcopado dos nossos dias, e dizei-nos: Pode isto ser a continuação daquilo? Nada se tem exagerado, nada se tem mudado, nada se tem mistificado? Se Pedro e Paulo se levantassem por um momento, volveriam a seus sepulcros envergonhados das riquezas e do fausto dos que ousam dizer-se seus sucessores. Cheios de santa indignação, corrê-los-iam a azorrague, como Jesus correu os mercadores do Templo.

 

Da página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf