artigo da semana

-CONSEQUÊNCIAS ABSURDAS DERIVADAS DO DOGMA DA EXISTÊNCIA ÚNICA DA ALMA - REENCARNAÇÃO DAS ALMAS-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Capítulo XVIII

 

Primeira parte

 

Vejamos, agora, as consequências que resultam de aceitai-se a sorte definitiva da alma depois da morte; e, se tais consequências são ofensivas à justiça e à misericórdia de Deus, como poderá o verdadeiro cristão deixar de repeli-las por seus fundamentos?

 

Que Deus não faz exceção de pessoas (São Paulo aos Colossenses, 3: 25) disse o Apóstolo dos gentios; todos os homens são iguais em sua presença, e cada um recebe o fruto das suas obras.

 

Esta doutrina, que é a do colégio apostólico, a dos primeiros dias do Cristianismo, nos quais se respirava, em toda a sua pureza, o hálito divino do ensino de Jesus, é completamente incompatível com o destino definitivo das almas depois de uma única existência corporal.

 

Que aos olhos de Deus não há distinção de pessoas, compreende-se claramente pelo simples bom senso; porque não pode havê-la em sua justiça — e, em Deus, não se pode supor contradição, o que haveria se a sorte do homem fosse definitivamente resolvida depois da morte. É o que nos propomos demonstrar.

 

No procedimento de cada um influi uma multidão de causas.

 

A idade, o sexo, o temperamento, as inclinações naturais, a saúde, o país em que se nasce, a educação, o talento, a posição social, e outras mil condições e circunstâncias contribuem para formar a moral do indivíduo e para dirigir sua vontade.

 

Essas causas estabelecem tal variedade entre os homens que, pode-se afirmar sem receio de erro, não há dois em condições de existência perfeitamente idênticas, em todo o gênero humano.

 

O princípio de tão notórias desigualdades entre os homens, de modo algum pode ser atribuído a Deus; pois valeria por atribuir-lhe a exceção de pessoas de que fala o Apóstolo; donde a arbitrariedade e o capricho.

 

Como atribuirmos ao Ser Supremo, essa desigualdade de condições, sem ofendermos a sua justiça?

 

Por que uns morrem em idade em que não puderam conquistar merecimentos, nem contrair responsabilidades, ao passo que outros vivem longos anos e se fazem merecedores de castigos e de recompensas?

 

Por que há de haver afortunados que, por exemplo, nascem no seio do Catolicismo, e mal-aventurados que vêm à vida em terra infiel; predestinados os primeiros, certamente, a gozar o céu - e os segundos a aumentarem o número das almas condenadas?

 

Como explicar o fato de serem uns inclinados à prática do bem, que fazem sem esforço — e outros não poderem fazê-lo sem violentar a corrente das suas inclinações, que os arrasta para o mal?

 

Por que se nega à generalidade dos homens o direito de pensar que se concede a uns tantos, se este dom é uma lâmpada acesa para conhecer-se Deus e as leis da sua soberana vontade?

 

Por que a miséria, a baixa condição, a feiura, as deformidades, a falta de saúde, a humilhação, e os sofrimentos morais de um lado; e do outro a abundância, a elevação social, a formosura, a robustez, a glória, e a tranquilidade de espírito?

 

Não; não pode ser Deus autor de tantas desigualdades, porque as imperfeições não procedem da perfeição infinita.

 

O nosso nascimento não é mais que a continuação da nossa perfectibilidade, e um efeito do grau de progresso que, por nosso livre-arbítrio, temos alcançado.

 

Viemos ao mundo colher o fruto das sementes plantadas em anteriores existências, e semear de novo para a vida futura.

 

Somos, por conseguinte, nós e não Deus, a causa da diversidade das condições humanas. A alma, desprendendo-se do seu invólucro corporal, readquire a memória do seu passado, temporariamente perdida, lança a vista para o caminho percorrido e pressente o que lhe falta ainda percorrer, estuda seus erros, examina suas impurezas, mede sua fraqueza e sua força, e busca, em uma série de reencarnações, os meios de purificar-se, de reparar o mal feito, de retificar seu falso juízo e de aproximar-se do seu sapientíssimo e bondoso Pai, que a espera para recebê-la em seu seio.

 

Quão esplendorosa brilha, deste modo, sobre a Terra, a justiça de Deus!

 

O homem é filho de suas próprias obras; e as diferenças humanas são filhas do uso que cada um faz da sua liberdade.

 

Renascem a paz e a esperança nos corações, brota a verdadeira piedade, revive a fé, progride o homem, e a Humanidade progride...

 

Um suave murmúrio de louvores se eleva da Terra ao céu, porque do céu desce um raio de luz reparadora, que dissipa as trevas e o desalento.

 

Não se julgue que a justa e consoladora teoria das reencarnações sejam exclusivas destes tempos e da escola espírita.

 

Filósofos ilustres da antiguidade sustentaram-na; proclamaram-na os profetas; o próprio Jesus a indicou, pregaram-na os Apóstolos (26) e, posteriormente, continuaram a defendê-la veneráveis doutores da igreja católica, entre os quais, alguns, como Clemente de Alexandria e Gregório de Nicéia, são venerados nos altares cristãos.

 

Um bispo francês, Monsenhor de Montal, falou das vidas anteriores da alma em uma pastoral que publicou em 1843.

 

(26) Na terceira parte deste livro, encontrará o leitor uma multidão de citações comprobatórias da reencarnação da alma, bem como das demais teorias essenciais da escola espírita.

 

Publicado na página: https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf