artigo da semana

-PRIMEIROS RESULTADOS - INCONVENIENTES DA COMUNICAÇÃO E MEIOS DE EVITÁ-LOS-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Parte Segunda

 

Capítulo III

 

Não foi preciso multo tempo em ensaios, para que obtivéssemos provas eficientes da verdade da comunicação dos Espíritos. Vários dos que são hoje membros do grupo lograram prontamente resultados mais ou menos importantes, porém os precisos para adquirirmos a necessária convicção.

 

Esses ensaios se espalharam, com o melhor desejo, por algumas famílias e, atualmente, são muitos os médiuns psicógrafos, de um e outro sexo, que praticam com proveito a mediunidade, numa Capital onde nem de nome isso era conhecido.(43) Desde as primeiras experiências, tivemos ocasião de observar que a comunicação não era isenta de contradições e perigos.

 

Vaticínios frustrados, promessas não realizadas, afirmações desmentidas, inexatidões, leviandades, tolices não faltaram, e talvez nos houvessem feito vacilar e desistir da empresa, se não tivéssemos visto, no fundo de tudo aquilo, a realidade de um fato digno de ser estudado, e, ao lado daquelas comunicações desanimadoras, outras, por todos os títulos respeitáveis.

 

Possuíamos o fato, e o nosso dever era estudá-lo e evitar quanto possível seus inconvenientes.

 

Não nos foi difícil compreender que a diversidade e os contrastes das comunicações eram naturais e lógicos, como reflexo da diversidade intelectual e moral dos Espíritos.

 

O Espírito, pelo simples fato da sua emancipação do corpo, não adquire o conhecimento de todas as coisas, nem fica limpo de todas as suas impurezas. Goza, é certo, de maior lucidez, porém conserva as inclinações, os sentimentos e, até certo ponto, os hábitos contraídos em sua vida corpórea. É um ser progressivo, que não realiza as suas transformações bruscamente, e sim de um modo harmônico e por sucessão gradual.

 

Isto é aceitável e filosófico, mesmo que o Espiritismo não o tivesse feito evidente.

 

A diversidade que se observa entre os homens não é menor no mundo dos Espíritos — e, portanto, as manifestações individuais dos seres de além-túmulo variam ao infinito, como as manifestações individuais dos homens.

 

O Espírito manifesta-se de outro, prudente, bondoso, verdadeiro, profundo, grave, discreto, virtuoso; ou ignorante, leviano, malévolo, falso, superficial, atoleimado, ridículo, maldizente, segundo o grau da sua cultura intelectual e moral.

 

O que interessa, pois, é não ligar importância a comunicações que não produzem, moralmente falando, nenhum bem — e que não podem proceder senão de Espíritos superficiais ou malévolos.

 

A prática nos ensinou que, com prudência e boa-vontade, se evitam facilmente esses escolhos, em que não poucos soçobram, por não darem à mediunidade a importância devida.

 

A falta de conveniente respeito, as exageradas pretensões, a curiosidade, o amor-próprio e o egoísmo, são causas de se recolherem frequentemente contradições, zombarias e disparates.

 

E, como tirada a causa, cessa o efeito, as comunicações frívolas e infrutíferas deixam de repetir-se, quando não forem provocadas pela falta da necessária preparação ou por outros motivos facilmente determináveis.

 

O próprio desdobramento das comunicações, mesmo das que convêm evitar, instrui a quem sabe aproveitar-lhes o ensino; pois que, sendo a comunicação, em geral, fiel reflexo das boas ou más disposições do que a dá - de seu maior ou menor grau de elevação, podem-se tirar dela estímulos ou considerações que sirvam de corretivo.

 

É preciso estudar, como aconselha o evangelista S. João, se são de Deus os Espíritos que se comunicam ou, o que vale o mesmo, se suas intenções têm o selo da moral evangélica — e, caso não seja assim, suspender as comunicações e dispormonos dignamente para obtê-las proveitosas.

 

Quando os Espíritos enganadores veem que suas insinuações malévolas são conhecidas e repetidas vezes desprezadas, retiram-se e deixam o campo a Espíritos superiores, aos quais atrai o bom desejo dos que buscam, nos ensinos espirituais, a verdade e o bem.

 

(43) Dá-se o nome de médium à pessoa que serve de instrumento de comunicação dos Espíritos.

 

Publicado na página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf