artigo da semana

-COMO SE REALIZA O FATO - OS MÉDIUNS-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Parte Segunda

 

Capítulo VI

 

Como se verifica a comunicação espiritual?

 

Não nos referimos senão às que se obtêm por meio da escrita, pois que a esta classe pertencem às obtidas no círculo de Lérida.

 

O médium, isto é, a pessoa que tem a faculdade de receber as comunicações, toma a pena, abandona a mão sobre o papel e a mão move-se por impulso alheio e inteligente, traçando palavras, frases, períodos legíveis, cujo conjunto exprime, não os pensamentos do médium, mas os da força inteligente, exterior e invisível, que imprime movimento à pena.

 

A mão do médium, completamente passiva, age como a da criança que forma sobre o papel traços e letras, obedecendo ao movimento e à direção da mão do seu mestre.

 

A capacidade ou aptidão mediúnica é muito geral. Em nossa opinião, todas as pessoas a possuem em maior ou menor escala — e, se nem todos obtêm resultados, talvez seja devido, menos à falta de aptidão, que à impaciência ou à falta de ordem com que a maior parte faz os seus ensaios.

 

É indispensável compreender que a comunicação não pode dar-se sem permissão superior — e que não a alcançaremos se não soubermos pedi-la.

 

Não é condição essencial crermos na realidade do fenômeno, para obtê-lo; basta estudá-lo com respeito e desejá-lo com o propósito de o aproveitar em bem da Humanidade.

 

O médium pode ser mecânico, ou intuitivo (vede O Livro dos Médiuns); o primeiro, obra maquinalmente, sem consciência do que sua mão escreve; o segundo, recebe os pensamentos e até as palavras, que sua mão traslada automaticamente para o papel. Neste último caso, a comunicação é uma verdadeira inspiração — e não merece menos confiança que a primeira, a mecânica, sempre que o médium, deixando completamente abandonada a mão, evite a possibilidade de mesclar seus próprios conceitos aos que lhe são inspirados.

 

A mediunidade intuitiva é frequentemente causa de desconfiança da parte do médium, que, vendo sua mão traçar o que passou por sua mente, suspeita ser sua vontade que determina o movimento da pena.

 

Essas suspeitas se desvanecem com o bom uso da mediunidade e com a prática; pois que, no decurso das comunicações, dar-se-ão casos de algumas referirem fatos por ele ignorados e depois comprovados — ou fatos muito superiores aos seus conhecimentos. Que o médium intuitivo pode influir na estrutura e fraseologia da comunicação, não há que duvidar; pois que um pensamento, inspirado pelo mesmo Espírito a dois médiuns de diferentes graus de instrução, aparece escrito com palavras e construção mais ou menos cultas, segundo a cultura e a ilustração do médium.

 

Isto, porém, que, prima fatie (46), faz suspeita a comunicação, não é, se bem se reflete, senão resultado lógico e natural que facilmente se explica, tão facilmente como a comunicação estritamente mecânica.

 

Para o Espírito, as palavras nada são — o pensamento é tudo; ele comunica seu pensamento ao médium e, enquanto vê que este o interpreta fielmente, deixa que o escreva com as palavras que lhe ocorrerem. Por esta razão, raras vezes um Espírito elevado se serve de um médium intuitivo de escassas luzes, para comunicações importantes.

 

Terá com ele conversações íntimas ou dar-lhe-á conselhos familiares; mas, para assuntos sérios ou matéria de importância, preferirá servir-se de quem, embora incapaz de compreender os conceitos que lhe transmite, possa, em maior ou menor grau, corresponder-lhe e corretamente formulá-los.

 

(46) Expressão em latim cuja tradução literal é "à primeira vista", aplicada a algo que se pode constatar de imediato, sem necessidade de profundo exame; aquilo que é claro, evidente, óbvio - N. E.

 

Do livro Roma e o Evangelho, distribuição do Portal Luz Espírita (http://www.luzespirita.org.br).