artigo da semana

-IMPORTÂNCIA MORAL DA COMUNICAÇÃO - OBJEÇÃO CONTRAPRODUCENTE - CONSIDERAÇÕES-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Parte Segunda

 

Capítulo XI

 

Pelas considerações que precedem, podem os nossos leitores julgar da importância moral do fato da comunicação espírita; e, talvez, modificar a opinião formada ligeiramente, sem um exame imparcial e maduro do fenômeno.

 

Nada de fantasmagorias, nada de práticas misteriosas, nada de conciliábulos na sombra, nada de profanações insensatas ou de esconjuros e palavras cabalísticas, nada de mortos que se levantam das sepulturas para responderem ao chamado imperioso de um fraco mortal, que obedece à maléfica influência do maligno Espírito.

 

Preces piedosamente elevadas a Deus, na humildade dos nossos corações, como filhos e servos seus que somos, como fracas criaturas que pedem ao Senhor à força que lhes falta, misericórdia divina, que envie um raio da sua luz aos que buscam em humildade e no desejo do bem, graças ao Altíssimo, pelas inspirações e favores alcançados da sua bondade onipotente: eis o princípio e o fim da comunicação espírita, eis as timbrosas práticas dos que, desenganados, buscam, em Deus, as verdades religiosas, que não têm podido encontrar na palavra dos homens.

 

Antes de condenar tais práticas, é preciso negar a eficácia das orações, o poder consolador e benéfico dos bem-aventurados e a verdade das promessas evangélicas.

 

"O demônio do orgulho fala por vossa boca — dizem os sacerdotes romanos — sois umas miseráveis criaturas, e atrevei-vos a presumir que podeis pôr-vos em relação com os santos."

 

Não duvidamos confessar que somos fracos, que padecemos enfermidades da alma, que sentimos em nós o peso da concupiscência e de mil e mil misérias da nossa natureza; mas, por isto mesmo que estamos enfermos, deixai que peçamos a Deus, que é o melhor médico, o remédio para as nossas enfermidades; por isto mesmo que somos fracos, não nos arranqueis a consolação de chamar em nosso auxílio à proteção superior.

 

Isto não é orgulho, é humildade, é fé, é esperança, é adoração, é amor.

 

Se Deus ouve, propício, as nossas preces, sem que o mereçamos, bendito seja Deus, que nos envolve em sua misericórdia infinita!

 

Vós, porém, que nos encrespais e condenais, haveis de permitir que, por nosso turno, vos perguntemos: são vossos costumes tão puros e imaculados, vossos desejos tão santos, vossos propósitos tão nobres, vossa caridade tão exemplar, que mereçais comunicar-vos diretamente, não só com as criaturas celestiais, mas também com o próprio Deus e com Jesus Cristo em corpo e alma, como pretendeis fazê-lo no sacrifício da missa?

 

Não vão nisto orgulho e insensatas pretensões?

 

Porventura, o Supremo Senhor vinculou o monopólio de seus dons à classe sacerdotal? Ignorais que em Deus não há preferências nem exclusões, quer para as pessoas, quer para as classes — que, como diz o profeta, jamais deixa de atender às súplicas dos corações contritos e humildes: "cor contrictus et humiliatus, Deus non despiciut?"(48) Caso somente os justos pudessem esperar a comunicação superior, quantos dos vossos pronunciariam em vão as frases sacramentais?

 

A comunicação com os Espíritos, tomadas as disposições necessárias, é um ato eminentemente cristão. Assim o entende o Circulo Cristão-Espiritista de Lérida — e assim o entenderão, seguramente, os nossos leitores, que tenham acompanhado, com juízo imparcial, o curso de nossas observações filosófico-religiosas.

 

Um ano antes, não éramos espíritas; e hoje, somos. Começamos pelo estudo das doutrinas — e as doutrinas, que se recomendam pela sublimidade da sua moral, nos atraíram.

 

Examinamos os fatos com vistas indagadoras — e os fatos nos têm trazido ao terreno das mais arraigadas convicções, e vimos neles a sanção dos princípios. Temerosos das dificuldades que oferece a parte experimental, procuramos cercá-la das mais escrupulosas precauções e os resultados atestam que não trabalhamos em vão.

 

Disto julgarão nossos leitores pela série de comunicações que adiante publicamos, obtidas por este Círculo — e para cujo valor e a importância chamamos, muito particularmente, sua ilustrada e benévola atenção.

 

(48) Expressão em latim cuja tradução livre poderia ser "coração contrito, ó Deus, não olhe para baixo" — N. E.
Do livro Roma e o Evangelho, distribuição do Portal Luz Espírita (http://www.luzespirita.org.br)