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-COMUNICAÇÕES OU ENSINOS DOS ESPÍRITOS (17ª À 21ª)-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Parte Terceira

 

17º

 

Julho de 1873

 

“Meus amigos, velai sem cessar.

 

Não olvideis, nem por um momento, o que deveis à Providência, aos vossos irmãos do Universo, e a vós mesmos.

 

A Providência deveis tudo o que pode fazer a vossa felicidade, aos homens, o vosso amor, avós mesmos, a salvação.

 

Sois dos chamados; de vós depende que, em breve, sejais dos escolhidos.

 

Vejo que trabalhais por ser destes últimos e, para alcançardes tão inefável ventura, ouvi o que vos cumpre fazer:

 

Desde que desponte a aurora até que o sono volva à noite a cerrar-vos os olhos, ocupai todos os instantes que vos permitirem os cuidados e deveres que vos rodeiam, em elevar vosso espírito até ao Pai de todas as criaturas e em cumprir Sua sapientíssima e provida vontade.

 

E sabeis qual o melhor meio de elevar a Deus o coração e de obedecer às suas vontades na Terra? Orar pelos que sofrem, condoer-se das misérias, principalmente das da alma, levar o consolo onde irrompe uma lágrima, amar as crianças e a todos os seres débeis, e ser sua providência, olhar com carinho os que vos ofendem, esquecendo suas injúrias, instruir os ignorantes, de preferência nas verdades espirituais, combater, com a unção da palavra e do exemplo, todos os fanatismos e, muito especialmente, o fanatismo religioso, não dissimular a verdade, antes pregá-la sempre sem temor, ser severo consigo mesmo e relevar as faltas dos outros, não abrir o coração à lisonja e ao orgulho, não esquecer os deveres para com os vossos pais, para com as vossas esposas e para com os filhos que vos forem confiados, sem exagerá-los, porém, em prejuízo dos demais; em suma: amar a todos e praticar o amor.

 

Cada um destes atos é uma flor da alma que, juntas, formam um delicado ramalhete, cujos aromas sobem até Deus.”

 

(Maria)

 

Os que atribuem ao diabo as comunicações que se recebem nos círculos ou reuniões espíritas, julgam de boa-fé que o que acabamos de transcrever pode ser inspirado por algum desses espíritos maléficos, destinados pela Igreja Romana a atiçar eternamente o fogo das regiões infernais, aceso ao sopro da divina vingança.

 

Um código da mais sublime moral, inspirado e escrito pelo apóstolo da imortalidade, da corrupção e do crime, cuja única missão é infeccionar os costumes e os sentimentos, para aumentar o número dos infelizes condenados, é fenômeno tão novo — tão inconcebível, tão irracional, que o repelem, de comum acordo, por absurdo, a razão e o coração.

 

Dar bons conselhos aos que deles carecem, é uma das obras de misericórdia, e a ninguém ocorreu, até hoje, que o diabo pudesse empregar seu tempo em obras tão caritativas e cristãs.

 

Isso só se pode explicar admitindo-se que os Espíritos rebeldes acabaram por abdicar as suas ruins manhas, e por converter-se em discípulos e apóstolos das doutrinas evangélicas.

 

Escorregadiço é o terreno em que o diabo colocou os partidários do seu tenebroso poder! O Espiritismo é incomparavelmente mais lógico e oferece soluções que estão em perfeita harmonia com a bondade e a justiça de Deus. Crê que os espíritos benéficos têm mais poder que os maléficos e que, se Deus nos sujeita a provas e a tentações em que intervêm estes, permite também que aqueles venham sustentarnos e alentar-nos.

 

Se discorrer assim é para uns loucura e para outros heresia, não lhes invejamos o entendimento, nem a fé.

 

18º

 

Julho de 1873

 

“Meus irmãos. Quando o gorjeio dos passarinhos rompe o silêncio da noite e desperta a natureza adormecida, é porque uma nova aurora rompe o manto das noturnas trevas e espalha pela Terra a sua face risonha e a sua habitual alegria.

 

Quando os Espíritos deixam ouvir as suas misteriosas harmonias e a Humanidade se agita, como que sacudida com violência, é porque um novo raio de luz vem mostrar aos homens a senda abandonada do dever e do progresso.

 

O progresso pelo dever é a lei do Universo moral e, quando essa lei é olvidada ou se entorpece em seu cumprimento, vêm os abalos sociais, as violências, as revoluções e, conjuntamente, os temores e os arrependimentos.

 

Estudai a época atual e descobrireis sintomas assustadores de decomposição; porém, esses sintomas precedem sempre as grandes renovações.

 

Preparai-vos, não durmais; porque, em vossos dias, o Espírito da Verdade virá, com seus eleitos, operar a mais importante das renovações que a Humanidade jamais tem presenciado e admirado.”

 

(S. Luís Gonzaga)

 

A renovação de que nos fala o Espírito de São Luís Gonzaga é uma necessidade universalmente reconhecida por quantos estudam o estado moral da Humanidade — e o que é necessário, irrevogavelmente sucede.

 

Um mal-estar geral sente-se em todos os povos e em todas as sociedades e ninguém descobre o meio de remediá-lo.

 

A política ensaia todos os processes de manter a paz; fá-lo, porém, inutilmente, porque a enfermidade, que procura na cabeça, está no coração.

 

Os erros religiosos geraram a incredulidade e o materialismo — e os povos não podem viver sem a fé, que é o alimento da alma.

 

A vida do sentimento é vida de expansão e de verdadeiro bem-estar — e na época atual o sentimento apenas dá sinais de vida.

 

Dezenove séculos são decorridos desde o estabelecimento das doutrinas do Cristo e ainda não temos sabido ser verdadeiramente cristãos; é tanto, que os homens se olham com indiferença, como estranhos, sem cuidarem de que Jesus não cessou de recomendar a caridade e o amor. E, todavia, abundam os ricos que não cogitam das misérias dos pobres — e pobres que aborrecem os que desfrutam as comodidades da vida.

 

Este é o cancro da humanidade presente e o Espiritismo é que lhe arrancará a raiz, à vista dos homens, a fim de que penetre em seus corações o mandamento do Mestre: Amai-vos uns aos outros.

 

Eis a fórmula da felicidade humana.

 

19º

 

Julho de 1873

 

“Irmãos. Falais e pensais do Espiritismo como de obras de homens, e por isso vacilais, por isso duvidais da sua eficiência e não estais ainda bem persuadidos do seu triunfo. Acreditais, porventura, que foram os homens que pregaram o Evangelho de Jesus? A luz veio das alturas de Sião e o que desce do Alto não perece. O que os homens fizeram com relação ao Evangelho, foi explicá-lo a seu modo e acomodálo à sua orgulhosa ignorância. Se o Evangelho fosse um monumento erguido por mãos de homens, ninguém se preocuparia com ele.

 

Sede mais refletidos e pensai com mais critério.

 

O Cristianismo Espírita ou é obra humana ou procede da Suprema Razão, da Origem Eterna das coisas. Na primeira hipótese, pereceria inevitavelmente; na segunda, porém, quem poderá frustrar-lhe o triunfo ou deter-lhe o passo?

 

Quem pode temer que o pensamento divino tropece nas miseráveis dificuldades criadas pelos homens?

 

Que significam os interesses, a ambição, o amor-próprio, o orgulho, os ódios, o egoísmo e todo o inferno de vis paixões que agitam o coração humano, diante da eterna e imutável vontade do Altíssimo?

 

O Espiritismo, meus amigos, bem o compreendem alguns de vós, vem de cima — e porque vem de cima, triunfará. É o Evangelho revelado pelos Espíritos que recebem a palavra de Deus, e explicado conforme as necessidades morais dos tempos e das gerações; porque o Evangelho é o manancial de luz e de vida em todas as idades da humanidade e para todas as humanidades.

 

O Cristianismo Espírita triunfará, porque é a verdade dos sábios, a alegria dos corações humildes, o consolo dos que choram e a esperança dos que sofrem.”

 

(Santo Tomás de Aquino)

 

Novas vacilações na fé, novos terrores oriundos de sentimentos humanos, e novos impulsos celestiais.

 

Gozávamos de certa consideração entre os homens, e essa consideração ia desaparecer como fumo.

 

Neófitos ainda, víamos no caminho da fé um futuro cheio de espinhos e de dissabores, e volvíamos os olhos, com a maior frequência, ao nosso passado, prestes a retroceder. Nesses momentos solenes, a consciência, ilustrada e fortalecida pelas superiores inspirações, nos atirava à face as nossas fraquezas e o nosso egoísmo, e o batel, próximo a soçobrar, triunfava da voragem e de novo fendia as ondas, em busca do porto da salvação.

 

20°

 

Agosto de 1873

 

“Meus irmãos. Os vossos enérgicos esforços para atrair ao caminho da verdade os que não o conhecem, nunca serão infrutíferos.

 

Sois o eco da trombeta do anjo que chama a juízo as consciências adormecidas no erro e a voz do céu ë muito penetrante para não ser ouvida pelos mortais.

 

Dizeis, porém: quem sou eu, para que venha a mim a palavra que se pronuncia nos conselhos do Senhor? Eu me sinto débil e enfermo, vacilo, duvido, as minhas ações estão muito longe de corresponder à perfeição que distingue os eleitos do Pai. Donde, pois, a graça de ser instrumento da Eterna Misericórdia e mensageiro de seus dons?

 

Fazeis bem em confessar vossa pequenez, e eu vos aplaudo sinceramente, meus amigos. Dos filhos do orgulho fogem os Espíritos da verdade.

 

Sois fracos e imperfeitos, é certo, porém não caminhais com decidido propósito em busca da purificação e da salvação da alma? Pois que ides em procura da luz, não podeis chamar outros para que vos acompanhem?

 

Chamastes o médico, porque vos sentíeis enfermos do coração — e o médico veio curar-vos, porque o chamastes. O que há de estranhar que, enquanto tratais da vossa cura, façais participantes dos remédios que avigoram vosso espírito, a outros Espíritos que sofrem como vós?

 

Demais, já se vos disse que o livro do passado e do futuro está cerrado aos olhos da carne e que em vão tentareis profetizar?

 

Obedecei aos decretos superiores, sem inquirir de suas causas e de seus fins; continuai dóceis e submissos às inspirações do Alto, porque pelo fruto se conhece a árvore, não esquecendo nunca que não faltam nas regiões das trevas Espíritos que tenham recebido, em suas encarnações, luzes especiais de que não souberam fazer o conveniente uso. Valor, meus filhos, e atividade.

 

Voltarei a ver-vos e a instruir-vos.

 

(Maria)

 

O venerando nome de Maria, com que termina a comunicação sob o número 17, tinha sido para nós motivo de confusão, desconfiança e receio. O excesso de luz cegava a vista de nossos espíritos. Como poderíamos nós, míseras criaturas, vencidas cada dia centenas de vezes nas tentações e nas provas, como poderíamos crer-nos dignos de receber diretamente as inspirações da Mãe de Jesus!

 

Estávamos como que atordoados, sem poder explicar o que se dava conosco e sem nos atrevermos a julgar fatos, de cuja realidade, por outro lado, não nos era permitido duvidar. Em tal estado, veio novamente Maria na comunicação número 20, desvanecer as causas do nosso espanto e receios. A Providência serviu-se dos mais humildes meios para o cumprimento de seus fins: fazer brilhar com todo o esplendor a sua onipotente intervenção.

 

21°

 

Agosto de 1873

 

“Mil graças rendo por vos terdes lembrado de mim.

 

Durante a minha missão episcopal pertenci, em aparência, à Igreja Romana, mas, na realidade, por uma intuição inata do mundo espiritual, eu pertencia à religião da verdade. Por isso, na minha propaganda religiosa procurei suavizar, quanto me foi possível, os dogmas do pontificado — e fundamentá-la no sublime princípio do amor, que é a alma do Evangelho de Jesus.

 

Não precisais de mim para os vossos ensinos, mas isso não me impede de acudir aos vossos chamados. Vejo que a luz de vossos espíritos é muito superior à minha; segui, pois, essas inspirações, sem vacilar, e sereis felizes.

 

Não me afastarei de vós, irmãos queridos, sem deixar-vos um conselho: vossa missão é sacerdotal, como foi a minha.

 

Não é sacerdote quem veste o hábito; mas, sim, quem prega a verdade e pratica a virtude. Os primeiros sacerdotes da religião cristã, foram os Apóstolos — e os Apóstolos nunca foram sacerdotes, no sentido que hoje se dá a esta palavra.

 

Dia virá em que os sacerdotes não se distinguirão pela cor e pela forma de suas vestimentas; mas, sim, por suas prédicas.

 

O verdadeiro sacerdócio não exige votos nem fórmulas especiais, nem pertence à determinada classe; é, pelo contrário, missão ao alcance de todos, sem distinção de estados, sexos ou condições.

 

Falastes no caminho da vida; segui-o.”

 

(Vítor, bispo)

 

O católico romano, que lê este livro com a prevenção de sectário, dirá talvez, ao fixar os olhos na comunicação de Vítor: vede como é o diabo que intervém nas comunicações, atacando rudemente a classe sacerdotal para destruir o Cristianismo! O lobo toma a pele do manso cordeiro, para seduzir os incautos. É o diabo? É o diabo?

 

Nem todos os nossos leitores julgarão de um modo tão diabólico — e, a este número, pertencerão todos os que examinarem a questão com critério reto e desprevenido. Porque: ou no Catolicismo Romano as fórmulas são o essencial, e neste caso chegaríamos à conclusão de ser ele uma religião absurda — ou as palavras de Vítor são a fiel expressão de uma verdade dentro do Catolicismo.

 

Vítor faz consistir a missão do sacerdote em ensinar a verdade e a virtude, pela palavra e pelo exemplo — e despojado caráter sacerdotal a todo o que, embora vestindo o hábito, não guarda a harmonia entre suas palavras e seus atos com a sublimidade de sua missão. É atacar a classe sacerdotal?

 

Quem assim julga, longe de pôr em evidência a meditação do Espírito maligno, na comunicação de Vítor, condena implicitamente o clero católico romano, dando a entender que não é muito comum, entre os sacerdotes, pregar a verdade e praticar a virtude.

 

Vítor, elevando o ministério sacerdotal, não censura os ministros que, com a palavra e o exemplo, seguem as pegadas do que foi a encarnação da divina palavra; mas, sim, aqueles que têm o orgulho de se julgarem representantes de Deus entre os homens, só por vestirem um hábito que mancham com suas misérias.

 

Do livro Roma e o Evangelho, distribuição do Portal Luz Espírita (http://www.luzespirita.org.br)