artigo da semana

-O RETRATO DE JESUS, FEITO POR PÚBLIO LÊNTULO-

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

“Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que, pelo povo, é inculcado o profeta da verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do céu e da terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em verdade, ó César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma só palavra — é um homem de justa estatura e é muito belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que aqueles que o vêem são forçados a amá-lo ou temê-lo. Tem os cabelos da cor da amêndoa bem madura, são distendidos até às orelhas, e das orelhas até às espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes. Tem no meio de sua fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso nos Nazarenos, o seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis.

 

A barba é espessa, mas semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio, seu olhar é muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros, o que surpreende é que resplandecem no seu rosto como os raios do Sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende, apavora, e quando ameniza, chora; faz-se amar e é alegre com gravidade.

 

Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas, antes, chorar.

 

Tem os braços e as mãos muito belos; na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele se aproxima, verifica-se que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa imaginar, muito semelhante à sua Mãe, a qual é de uma rara beleza, não se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela, porém, se a Majestade Tua, ó César, deseja vê-lo, como no aviso passado escreveste, dá-me ordens, que não faltarei de mandá-lo o mais depressa possível.

 

De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe todas as ciências e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com ele, tremem e admiram.

 

Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me dizem os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, como ensina este Jesus; muitos judeus o têm como Divino e muitos me querelam, afirmando que é contra a lei de Tua Majestade; Eu sou grandemente molestado por estes malignos hebreus.

 

Diz-se que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm praticado, afirmam ter dele recebido grandes benefícios e saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua Majestade ordenar será cumprido.

 

Vale, da Majestade Tua, fidelíssimo e obrigadíssimo... PÚBLIO LÊNTULO, presidente da Judéia.

 

L’indizione setima, luna seconda”.

 

Esse documento foi encontrado no arquivo do Duque de Cesarini, em Roma.

 

Essa carta, onde se faz o retrato físico e moral de Jesus, foi mandada de Jerusalém por Públio Lêntulo, então presidente da Judéia, a Tibério César, em Roma.

Tirâmo-la da Revista Internacional do Espiritismo.

 

 

A SENTENÇA CONDENANDO CRISTO À MORTE

 

“Sentença pronunciada por Pôncio Pilatos, governador regente da alta Galiléia, ordenando que Jesus de Nazareth sofrerá o suplício da Cruz.

No ano dezessete do império de Tibério César, no vigésimo quinto dia do mês de março, na Cidade Santa de Jerusalém, Anás Caifás sendo sacerdote e sacrificador do Povo de Deus; Pôncio Pilatos, governador da baixa Galiléia, assentado na cadeira presidencial do Pretório:

Condena Jesus de Nazareth a morrer sobre uma cruz, entre dois ladrões, dando o grande e notório testemunho do povo:

 

1º — Jesus é sedutor;

 

2º — Ele é sedicioso;

 

3º — É inimigo da Lei;

 

4º — Se intitula falsamente Filho de Deus;

 

5º — Pretende ser Rei de Israel;

 

6º — Entrou no templo seguido de uma multidão que levava, em mãos, palmas.

 

NOTA. Este documento apareceu publicado no Jornal de Francfort, número 115, de 26 de abril de 1839.

 

Nesta sentença incisa em uma lâmina de cobre está literalmente escrito: — Uma igual lâmina é expedida a cada tribo.

 

Esta sentença foi achada em um vaso antigo, de mármore branco, quando se faziam escavações na cidade de Aquila, no Reino de Nápoles, em 1280, e foi exposta pelo comissário das Artes, empregado na Armada Francesa.

 

No tempo da expedição de Napoleão, ela estava na sacristia dos Certosinos, vizinha de Nápoles, guardada em uma caixinha de ébano. O vaso está na sacristia de Caserta.

 

A tradição que se lê foi feita pelos membros da comissão das Artes.

 

Os Certosinos, mediante suas súplicas, obtiveram que esta lâmina não lhes fosse tomada, compensando com grandes sacrifícios que haviam feito pela Armada.

 

Denon havia feito fabricar uma lâmina do mesmo modelo, sobre a qual fez inscrever a mesma sentença. Na venda do seu gabinete, esta foi comprada por Lord Howard, por 2.890 francos.

 

Esta cópia foi tirada do nº 11, ano VIII, da Revista Internacional do Espiritismo.

 

Ordeno pelo primeiro centurião Quinto Cornélio, de conduzi-lo ao lugar do suplício.

 

Proíbo a qualquer pessoa, seja pobre ou rica, a impedir a morte de Jesus.

 

As testemunhas que subscreveram a sentença contra Jesus são:

 

1º — Daniel Robani Fariseu.

 

2º — João Zorobatel;

 

3º — Rafael Robani;

 

4º — Capet Homem do Povo.

 

Jesus sairá da cidade de Jerusalém pela Porta Aruena”.

 

 

COMUNICAÇÃO DE SARA A HEBRÉIA(¹)

 

Haviam transcorrido muitos dias depois dos fatos referidos e nada havia eu tornado a saber de Jesus, quando tive de ir ao templo devido às festas de Páscoa, que ali se realizavam. No átrio encontrei-me com algumas moças, entre as quais estava Maria, a irmã: vinham desfiguradas e correndo. Eu perguntei a esta: Maria, me dás notícias de Jesus? — Vem, me respondeu, se ainda queres vê-lo. — Corri, e todas partimos juntas. — Aonde me levas? perguntei. — Vem, se queres, me respondeu novamente Maria.

 

Em meio do caminho nos encontramos com a bela Maria, conhecida pela Madalena, que chorando desesperadamente nos acompanhou, e chegamos assim correndo à porta do palácio do governador de então de Jerusalém, o qual se chamava Pilatos. Havia um gentio tão numeroso diante dessa porta, que era impossível passar, e uns vociferavam, outros batiam ferros ruidosamente, outros gritavam com voz rouquenha, enfim, jamais tinha eu ouvido uma barafunda tão grande — À força de irmos empurrando, chegamos ao pátio e pude ver. — Deus meu! — quem me houvera dito que tornaria a vê-lo, ao meu Jesus, em semelhante estado? Estava quase despido, com todo o corpo ensanguentado, com o cabelo e a barba em parte arrancadas, com os olhos inundados de lágrimas, porém com o semblante tranquilo; nós, as mulheres, não pudemos resistir a tal espetáculo: Madalena desmaiou, Maria chorava, e eu, eu nada via já.

Saímos de entre a turba e para nos vermos livres mais depressa dela, atravessamos o pórtico do palácio; um homem chamado Saimod estava sentado nos degraus do pórtico; tinha a cabeça apoiada entre as mãos e grandes gotas de suor lhe corriam pela fronte e caíam no solo. Eu amava muito a Saimod e por isso me aproximei dele. Ouvi que falava sozinho e parei para escutá-lo: “O corpo sofre, o espírito ora, o filósofo luta; eis Jesus”. — Saimod, disse-lhe eu, a quem falas assim? — Apercebeu-se então de minha presença e me disse: Que fazes aqui, Jones? — Vim para ver Jesus, lhe respondi, mas, por que sucedeu isto? — Vem, prosseguiu ele, agora Jesus descansa, porque seus verdugos estão cansados; vem e te contarei o que tem sucedido, porém lembra-te, ó Jones, que grandes coisas estão por suceder, lembra-te que acontecimentos que não tornarás a ver se apresentarão hoje. Vês o sol que resplandece? — Daqui a poucas horas se escurecerá; vês a Terra imóvel? — Daqui a algumas horas se agitará. — Quem te disse isso?, lhe perguntei.— Os astros e o vento.

 

Saimod era um homem original e incompreensível, que sempre falava de um modo enigmático; por isso nada mais lhe perguntei, restringindo-me a saber se devia permanecer com ele. — Fica-te, me respondeu, até amanhã. — Entretanto voltou a sentar-se no degrau da escada e eu a seu lado, e não falou nada mais.

 

Eu pus-me a olhar o que se passava ao derredor de mim. As mulheres que me acompanhavam todas tinham saído; Madalena, tendo recuperado os sentidos, entrou novamente, e se havia atirado ao solo, com os cabelos empapando-se no sangue de Jesus, chorava, chorava. Jesus se encontrava sentado ao pé duma coluna, imóvel como um cadáver, com o olhar fixo no solo, apercebendo-se a gente de que estava vivo por um tremor que por momentos lhe percorria todo o corpo; uma infinidade de soldados dava voltas pelo pátio dirigindo palavras ignominiosas a Madalena, enquanto se riam parvoamente entre eles.

 

Oh! — Quão negras eram suas almas! — Como eram maus todos eles! — O pobre Jesus não os maldizia, pelo contrário calava-se.

 

Amigos meus, semelhantes recordações não sabeis vós quanto me fazem sofrer; permiti-me, pois, que eu vá retemperar minhas forças nos espaços superiores.

 

Voltarei outra vez.

 

SARA

 

(¹)- Esta importante comunicação, devo-a à amabilidade de meu distinto amigo, o Capitão Ernesto Volpi. — Nota do Sr. Rebaudi.

 

Extraído do livro Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo – Editora e Distribuidora 33 – 14ª edição brasileira, por Estênio Negreiros.