artigo da semana
-NAS ESFERAS VIZINHAS DA TERRA-
Por Maria João de Deus no livro Cartas de uma Morta
Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)
Não são poucos os que na morte presumem o encontro inesperado de uma fonte inesgotável de onisciência e julgam, na sua inércia intelectual, que os Espíritos são criaturas sobrenaturais, cuja zona lúcida já atingiu o zênite do conhecimento.
Tais julgamentos são absolutamente falsos não só na sua base como na sua estrutura, porquanto supõem que o Espírito encarnado representa outra individualidade, conferindo à carne determinados poderes, que ela está muito longe de possuir na sua situação de elemento passivo e maleável. A matéria, com o seu complexo atômico, nada mais significa que um revestimento temporário, condição necessária à tangibilidade do ser.
Todavia, somente quando as lesões orgânicas, dentro das provações individuais, geram obstáculos ao surto evolutivo da personalidade, tem ela uma zona de influência natural sobre o desenvolvimento moral dos indivíduos.
Por exemplo, os loucos (não obsessos), os cegos de nascimento, os que surgem do berço com graves deslizes de ordem corporal; semelhantes Espíritos têm a empecer-lhes o círculo do progresso na atuação do organismo.
Mas, na generalidade dos homens, a matéria nada mais é que a veste temporária, que o fenômeno da morte nos faz trocar por outra, diferente em suas expressões estruturais, porém, sempre a mesma base de ordem material, de acordo com as necessidades do novo Plano onde teremos de desenvolver as nossas atividades.
É, portanto, natural que o nosso ambiente em grande parte ainda seja caracterizado pelas ideias e concepções da Terra.
São inúmeros os que examinam as nossas descrições do Espaço, imbuídos de ideias preconcebidas, incapazes de nos criticar com isenção de ânimo.
Contudo, isso não altera a nossa maneira especialíssima de viver aqui. As leis naturais são sempre as mesmas. A ordem, na sua expressão divina não pode ser modificada.
Se os núcleos humanos entrassem no torvelinho de uma conflagração universal e se todas as criaturas perdessem a vida em seus excessos, o sol não deixaria de fazer o seu percurso na imensidade, a lua prosseguiria com as suas mudanças, as correntes polares seriam as mesmas, a natureza continuaria criando sob o olhar misericordioso de Deus e as estrelas entre os seus reflexos, sorririam, de longe, para a Terra silenciosa e desabitada.
É inútil, portanto, revoltar-se ou sentir incompreensões em face das nossas exposições da vida real. A crítica não destrói as realidades, por mais judiciosas que nos apareça.
A vida em toda a parte
Nossa vida aqui é o prolongamento da vida humana.
Não existem vazios no Universo. Todas as zonas interplanetárias estão repletas de vida em suas manifestações multiformes. Uma gota d’água encerra um universo infinitesimal onde uma grande humanidade microscópica vive, trabalha e palpita.
Se Deus se conserva inatingível ao nosso entendimento atual, porquanto não podemos concebê-lo segundo a nossa individualidade, único índice que possuímos para apreciar os outros, também a Vida como manifestação de sua divindade ainda não é compreendida por nós, em toda a intensidade de suas grandezas multiformes.
Aqui, desenrolam-se as nossas atividades, à maneira dos homens, e nessa segunda zona onde me encontro e aguardo oportunidade feliz para reencarnar-me na Terra, apenas o que observo é que os homens são mais aperfeiçoados em seu modo de sentir, considerando-se totalmente eliminada a hipótese de guerras e dizimações de quaisquer obras. Há mais impulso de fraternidade nestes núcleos de seres, onde se agitam os sentimentos humanos em sua generalidade.
As afinidades raciais
O amor, a esperança, a tristeza, a fé, a confiança, o caráter, a sinceridade e demais atributos da personalidade humana, aqui estão vivos, palpitantes.
Tenho observado porém que apesar de livre do perigo das lutas fratricidas, entre todos existe grande movimento de afinidade racial, parecendo-me que a questão das raças aí na Terra está subordinada a um forte ascendente de natureza espiritual.
Os saxões, os latinos, os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes falanges à parte e em locais diferentes uns dos outros. Nos núcleos de suas atividades conservam os costumes que os caracterizavam e é profundamente interessante observarmos de perto como essas imensas colônias espirituais diferem uma das outras, apesar de se encontrarem ligadas pelos mais santos laços da fraternidade e do amor.
Hegemonia de Jesus; a Esfera cheia de sol
Muitos dos componentes desses núcleos tão arraigadamente conservam o modo de pensar que possuíam no planeta terráqueo, que raros são os que não relutam em aceitar a hegemonia espiritual de Jesus Cristo, como orientador e guia do orbe que deixamos e ao qual ainda estamos ligados por fortes elos de natureza afetiva, segundo o grau de progresso que já alcançamos.
É comum notarmos, então, pregadores do Evangelho do Mestre por toda a parte, esclarecendo as consciências e iluminando os raciocínios. Inúmeras colônias desconhecem ainda a mensagem da Boa Nova, apesar de terem as suas leis de caridade, de fraternidade e de amor, como a Terra as possuía antes do cumprimento das profecias que anunciavam o aparecimento do Senhor.
Mas, há sobre todas essas Esferas, falando de oitiva, segundo as explicações que tenho recebido de grandes mestres da Espiritualidade, uma Esfera cheia de sol, de claridade bendita e de belezas inenarráveis, onde promana a fonte que poderemos chamar inspiracional.
Do seu centro, dimanam todos os elevados conhecimentos que felicitam as leis humanas e os seus raios são refletidos pelas mentes que estão em correspondência direta com a sua grandeza, em concepções de bondade, de tolerância, de sabedoria e de amor.
Assim está explicado porque, muito antes de Cristo, já existiam na Índia grandes pensadores, essencialmente evangélicos nas suas doutrinas, pois a Grécia, o Egito e o Oriente já possuíam as teorias de solidariedade e de fraternidade humana. Dessa Esfera grandiosa, parte o equilíbrio para todas as correntes espirituais entre a Terra e as Esferas que lhe são concêntricas.
Continuação da Terra
É desse modo que tenho visto aqui muitas extravagâncias de costumes. Por exemplo, na primeira Esfera, mais apegada à Terra e às suas ilusões, temos muitas organizações à maneira do planeta.
São inúmeras as congregações de Espíritos que se dedicam à salvaguarda de seus ideais religiosos sobre o orbe terráqueo. A Igreja romana, por exemplo, tem aí organizações, conventos, irmandades, que defendem os seus erros e, assim, de facção em facção, podereis compreender a imensidade de nossa luta. Nas colônias de antigos remanescentes da África vim conhecer costumes esquisitos, como bailados estranhos, ao som de músicas bizarras que me deram a impressão de fandangos, tão da preferência dos escravos no Brasil.
A luta estabelecida não é pequena. A nossa existência é a continuidade da vida material com todas as suas características.
Vem daí o nosso contínuo conselho para preparardes uma vida melhor, pela aquisição de virtude e conhecimento. Assim como tenho visitado outros mundos e outros ambientes, cujas belezas constituem um sagrado estímulo para minha vontade de progredir e aprender, igualmente muita coisa lamentável tenho presenciado, optando sempre pela exortação fraterna, a fim de que saibas aproveitar proficuamente o vosso tempo na face do orbe que atualmente habitais.
Desejaria dizer-vos algo quanto às manifestações de vida sobre a superfície de Marte, mas temos de contar convosco o tempo, se estamos ao vosso lado, e é assim que observo o adiantamento das horas. Se Deus permitir falarei na próxima semana de outros ensinamentos obtidos por mim nessa Terra distante.
Deus vos dê boa noite e vos abençoe.
Publicado no portal na Internet http://www.bibliadocaminho.com.br/ocaminho/TXavieriano/Livros/Cm/Cm15.htm#It2