artigo da semana
-O DECÁLOGO-
MONOTEÍSMO – JUSTIÇA – HONESTIDADE – RESPEITO
Luiz Julião Ribeiro* (luizjuliaoribeiro@gmail.com)
Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)
Resumo
O Decálogo é, seguramente, a cartilha ética elementar indispensável ao progresso moral da Humanidade, sobre o qual as Forças Espirituais Superiores, sob o comando sábio, amoroso e celestial de Nosso Senhor Jesus Cristo, vêm construindo o edifício do amor e da verdade, da sabedoria e do bem, que há de abrigar e conduzir o espírito humano ao seu fatal e glorioso destino, instituído por Deus, funcionando como farol inextinguível a iluminar os caminhos alvissareiros da perfeição.
Os Dez Mandamentos constituem, sem contradita, o início da alfabetização espiritual da humanidade terrena, determinada por Jesus, em cumprimento aos desígnios de Deus.
A recepção mediúnica dessa legislação sublime coube ao israelita Moisés, Espírito missionário que, encarnado, libertou o povo hebreu de uma escravidão de aproximadamente quatrocentos anos, imposta pelas autoridades egípcias daquele tempo.
É o compêndio eterno e imutável para estruturar o padrão comportamental do espírito humano rumo à perfeição, segundo as Leis de Deus, e guiar a Humanidade na sua primeira fase da longa caminhada espiritual de aperfeiçoamento moral e intelectual, destino de todos os seres, estabelecido por Deus, a inteligência suprema e causa primeira de todos as coisas.
Por isso, os Dez Mandamentos é a cartilha da ciência espiritual, sobre a qual se estrutura todo o conteúdo programático subsequente, em todas as suas etapas indispensáveis para que o Espírito conquiste, na maior plenitude possível, o amor e a sabedoria, requisitos que lhe conferirão, um dia e por todo o sempre, o título de Espírito puro. Esse título já foi conquistado há bilhões de anos por Jesus Cristo e pelos demais Espíritos que também já alcançaram esse mesmo grau evolutivo na hierarquia espiritual.
O Espírito é um projeto de Deus que contempla sua criação, seu desenvolvimento, seu aperfeiçoamento e destino, nos mínimos detalhes, do começo ao fim. Para tanto, são oferecidos todos os recursos e meios necessários para que tudo ocorra conforme planejado, cujo cumprimento se dará na longa caminhada para a conquista do amor e da sabedoria, a se expressarem na imortalidade, sob a coordenação, orientação e proteção de Espíritos puros, mensageiros diretos do Criador, podendo-se dizer, numa expressão humana, seus ministros celestiais.
No caso específico da humanidade terrena, Jesus é o representante direto de Deus e todos os demais missionários, sem exceção, que aqui vieram ou que ainda poderão vir para impulsionar o progresso geral dos seus habitantes são auxiliares do Cristo, os quais têm a responsabilidade de disseminar seu incomparável Evangelho, que sintetiza admiravelmente a mensagem do próprio Criador.
É esse o sentido da frase peremptória de Jesus quando responde a seu discípulo Tomé, de maneira insofismável: “[…] Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João, 14:6).
É evidente que essa gloriosa conquista não se dará da noite para o dia. Demanda tempo incalculável para nós, preenchido por meio de repetições inúmeras, consubstanciadas nas variadas experiências, na feição de exercícios de aprimoramento e fixação de aprendizado, oportunizada por meio da lei de reencarnação, aplicada nos mundos materializados como o planeta Terra ou similares, por exemplo.
O Decálogo começa anunciando o maior de todos os princípios, o da unidade universal da Criação, Deus, revelando sua identidade, natureza, imaterialidade e poder, colocando fim nas ideias politeístas e no culto exterior ao Criador, conforme transcrito por Allan Kardec [2022, it. 2], em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo I, intitulado “Não vim destruir a Lei”, como segue: “Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão. Não tereis diante de mim outros deuses estrangeiros. Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está acima no céu, nem embaixo, na Terra. Não os adorareis e nem lhes prestareis culto soberano”(1)
O segundo mandamento trata da relação entre a criatura e o Criador, asseverando a necessidade de que a criatura se dirija a Deus com o devido respeito e reverência, com louvor, reconhecendo sua grandeza, seu poder, sua paternidade e seu amor universal; e não de maneira fútil, inútil, desdenhosa, caprichosa, banal, sem propósito elevado e vão, nos termos seguintes: “II. Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus”.
O trabalho é Lei Natural, movimenta tudo que é útil e bom, promove todas as transformações necessárias ao progresso; mas o descanso também é Lei Natural ou Divina, por ser útil e necessário na restauração das forças físicas. Assim, o terceiro mandamento estabelece a santificação do dia do descanso, o que não significa destiná-lo à inutilidade, à ociosidade e muito menos à prática do mal, anunciado assim: “III. Lembrai-vos de santificar o dia do sábado”. Santificar é agir com generosidade, no sentido da prática do bem, na aplicação do amor; vai muito além da simples utilidade, pois expressa a benevolência, a indulgência e o perdão, isto é, a caridade, como exemplificou várias vezes Jesus, curando enfermos, socorrendo os obsidiados, restituindo a visão, a fala e a audição, sob protestos injustificáveis daqueles que não lhe compreendiam a divina excelsitude.
A reencarnação de um Espírito enfeixa oportunidade gigantesca. Significa um investimento incalculável para o reencarnante em sua trajetória evolutiva. Não há comparação a ser feita com as oportunidades fragmentárias aqui na Terra. Basta dizer que a reencarnação é Lei de Deus, expressão da sua infinita sabedoria, do seu paternal amor e da sua inesgotável misericórdia, renovando oportunidades e objetivando reaproximar os filhos que d’Ele se transviaram. Objetiva a reparar o passado e promover um futuro melhor. Por essa razão, se pode fazer ideia da importância da família. Ora, os pais humanos são os instrumentos de que Deus se utiliza para atingir esse elevado desiderato. Não é apenas do ponto de vista biológico, da geração do corpo físico, embora este aspecto esteja também contemplado, porquanto muito significativo. É que, de ordinário, é na família que a Lei de Amor, lei das leis, se desenvolve com mais pureza, com mais candura, com mais beleza e com mais perfeição e intensidade. Honrar é respeitar, ter a perspicácia de reconhecer o valor e a importância dos pais para o bem dos filhos. De um modo geral, é na relação entre pais e filhos que se exerce a abnegação, o zelo, o carinho, a dedicação mais desinteressada e o sacrifício da própria vida, se necessário. Por isso, e por tudo mais que ainda não compreendemos plenamente, o quarto mandamento foi assim revelado: “IV. Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará”. O preceito, na sua parte final, contemplou a Lei de Causa e Efeito, deixando evidente que a prática do bem não é vã, mas, grandemente meritória, mormente para com os pais, em relação aos quais temos o dever de reverenciar, respeitar e cuidar.
“V. Não matareis.” Este mandamento contempla o princípio de que o tempo da morte do ser humano compete exclusivamente a Deus estabelecer, por meio da ação de suas justas, sábias e misericordiosas leis que regem todo o Universo. Grande parte dos agentes naturais da morte do corpo físico, a Humanidade já os conhece. O Espírito de Verdade nos ensina que o corpo físico é gerado com prazo de validade. Obedece ao planejamento reencarnatório do Espírito, regido por leis precisas. Assim, o tempo de vida do ser humano obedece a critérios rigorosos de merecimento e necessidade do Espírito reencarnado. Nem mais nem menos. Por isso é que o tempo de vida de uma pessoa é indisponível até mesmo para o próprio indivíduo. Por essa razão é que o suicídio viola a lei da vida. Porém, o Espiritismo, aprofundando o alcance do ensinamento, afirma que “o não matareis” tem sentido mais profundo e mais abrangente. Caracteriza-se pelo respeito que devemos ter a todos os direitos naturais da pessoa humana. Assim, apenas a título de exemplo, visto que é impossível esgotar, não se deve matar a dignidade, a liberdade, a honra, a fé, a esperança, a alegria, a tranquilidade, a integridade, os ideais e a paz do próximo. Se esse lapidar mandamento já fosse cumprido aqui em nosso planeta, não haveria mais aborto, infanticídio, homicídio, latrocínio, guerras, nem quaisquer outros tipos de violação aos direitos naturais do próximo. É por isso que ainda não alcançamos a paz, seja entre as criaturas, seja entre as nações. A inteligência humana, infelizmente, ainda é aplicada, em grande parte, na satisfação do orgulho, do egoísmo, da ambição, da prepotência, da inveja e da dominação de todo gênero; do mais forte, do mais poderoso, do mais astuto e do mais hipócrita e ardiloso sobre os demais.
O sexto mandamento prescreve “VI. Não cometereis adultério”. Importante observar que uma das características da linguagem dos Espíritos Superiores é a de ser sucinta, expressando apenas o essencial, de forma precisa, sem excesso, deixando seu detalhamento e aprofundamento para o momento oportuno. Adulterar significa fraudar, corromper, falsificar, enganar, agir com desonestidade, com ardil, com hipocrisia, com demagogia, com subterfúgio, mistificar. Reflitamos o quanto a Humanidade viveria melhor, com mais segurança, em paz, sem as ameaças da traição, dos golpes, das mentiras e das iniquidades, caso já tivéssemos erradicado esses terríveis vícios, essas ervas daninhas, essa enfermidade moral, simplesmente cumprindo o presente mandamento.
O sétimo mandamento trata do roubo que, do ponto de vista da legislação humana, significa a subtração de coisa alheia móvel, mediante o emprego de violência ou grave ameaça, assim prescrito no Decálogo: “VII. Não roubareis”. Aqui, à desonestidade, ao desrespeito, soma-se o emprego da força bruta, da dominação física e psicológica, do terror, da subjugação, do amedrontamento, escarnecendo e tripudiando sobre a dignidade, a honra, a incolumidade, a paz e o patrimônio alheio.
O oitavo mandamento enuncia o falso testemunho nos precisos termos: “VIII. Não prestareis falso testemunho contra o vosso próximo”. O falso testemunho é a fonte espúria da calúnia, da difamação e da injúria; comportamento vil, mascarado, indigno e desonroso, por meio do qual imputamos ao próximo, por pura maldade, insensatez e irresponsabilidade, fatos ou valores degradantes, inferiores e criminosos que, em verdade, cultivamos em nossos corações pútridos, porque causa satisfação e prazer a quem o comete, com o mais hediondo aviltamento da dignidade, da honra e do respeito que devemos uns aos outros.
Muitas vezes esse tipo de atitude é praticado por mera vingança ou leviandade, com graves repercussões altamente danosas aos familiares e demais pessoas do estreito relacionamento da pessoa a quem falsamente se atribui conduta reprovável, até mesmo perante os órgãos encarregados de promover a justiça humana.
O nono mandamento tem como objetivo respeitar e proteger a mais importante instituição social da Humanidade, a família. A família é o esteio de qualquer sociedade, exatamente pelo seu elevado e imprescindível papel na geração e formação moral de seus descendentes. É na família que o Amor, lei das leis, princípio dos princípios universais se desenvolve com mais pureza, beleza, abnegação e imparcialidade. Referimo-nos àquele amor forjado pelas relações entre pais e filhos. Nenhum outro ser vivo dispõe de tanto tempo para educar sua cria, nenhum outro ser vivo é mais dependente dos pais do que o ser humano. Isso porque o espírito humano tem objetivos que vão além da repetição dos atos instintivos e da mera sobrevivência e desenvolvimento do corpo. Não podemos mais conceber que essas características naturais, que vão além dos atos instintivos, alcançando o desenvolvimento do sentimento e da inteligência, conforme comprovam as obras magníficas do progresso humano, sejam geradas pelo acaso. Não são! O nono mandamento foca na figura da mulher: esposa e mãe. Ora, basta uma reflexão histórica, ainda que superficial, para enxergar peremptórias evidências da ascendência do papel da mulher na geração, manutenção e formação da prole, em face de suas íntimas ligações com os filhos, desde a concepção até alcançar seu amadurecimento, sendo a função de pai, embora importante, nesse aspecto, secundária. Por isso, estabelece o referido mandamento: “IX. Não desejareis a mulher do vosso próximo”. É evidente que esse mandamento não isenta também a mulher de cumprir essa mesma regra, com relação ao homem do vosso próximo, mas os fatos demonstram o acerto absoluto do preceito, universalizando o ensinamento que se aplica a todos que agem com o mesmo desiderato, independentemente do sexo.
O décimo e último mandamento enfeixa, genericamente, os demais deveres do indivíduo perante o próximo, notadamente referente ao respeito ao direito de propriedade de quem a possui. Este último mandamento foi assim exarado: “X. Não cobiçareis a casa do vosso próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem qualquer das coisas que lhe pertençam”. Evidentemente que este preceito não esgota todos os bens, uma vez que, à toda evidência, é apenas exemplificativo e não terminativo. Materializou os bens disponíveis ao usufruto humano daquela época. Essa nominação dos bens deve ser, sem qualquer dúvida, atualizada de acordo com o tempo e com as invenções, o progresso, as descobertas, as conquistas e os avanços científicos e tecnológicos da Humanidade. Contudo o elevado saber e a visão de futuro do eminente legislador que revelou o Decálogo se extrai do conteúdo de todo o texto e da parte final do preceito quando enuncia primorosamente: “[…] nem qualquer das coisas que lhe pertençam”. Essa expressão não deixa margem para qualquer lacuna ou dúvida.
Cobiçar o que não nos pertence revela claramente a enfermidade da desonestidade, produzida pelos vícios do orgulho, pai de todos os demais, ou seja, do egoísmo, da inveja, da ambição, da cobiça e da ausência do senso do real e legítimo direito à propriedade, desconsiderando, ainda, a Lei do Trabalho, do esforço, do suor e do mérito alheios e, por fim, a incapacidade de distinguir entre o justo e o injusto, entre o bem e o mal.
Como se evidencia dos fatos, o Decálogo constitui o mais extraordinário código de ética que a Humanidade já conheceu, notadamente se levarmos em conta a época em que foi exarado, transcorridos que são aproximadamente 3500 anos, quando os seres humanos do planeta desconheciam, em quase tudo, as necessidades imprescindíveis a serem implementadas para estabelecer uma convivência respeitosa e harmoniosa ente os indivíduos e os povos, por todo o sempre. A não ser que alguém seja capaz de demonstrar que esse monumental Código de Convivência humana se tornou obsoleto, ineficaz, desnecessário ou inútil… Será?
Somos da modestíssima opinião de que a Humanidade nunca esteve tão necessitada de cumprir essa apreciável e irrevogável legislação, cuja origem, a toda evidência, é de natureza espiritual e é exatamente essa vertente que elucida a grandiosidade do ensinamento, tão preciso, tão grandioso e tão acima dos habitantes daquela época.
Como se sabe, Moisés foi um médium extraordinário, produzindo vários fenômenos de efeitos físicos, narrados abundantemente nas Escrituras Santas.
O Espiritismo esclarece que os Dez Mandamentos foram transmitidos a Moisés por meio de fenômeno mediúnico que, devidamente investigado e comprovado por Allan Kardec, por meio de repetidas observações e exaustivos experimentos, foi denominado de pneumatografia ou escrita direta, esclarecendo e atestando, portanto, a sua natural e perfeita exequibilidade, não havendo no fato nada de extraordinário e muito menos de sobrenatural.
O médium nada mais é que um instrumento de natureza humana, que permite as comunicações entre os encarnados, revestidos do corpo físico, e os desencarnados, destituídos desse revestimento, viabilizando a produção de diversos fenômenos, promovendo combinações químicas, produzindo ações físicas, movimentando objetos e coisas. Trata-se de situação que guarda semelhança com o que hoje se produz por meio dos aparelhos eletrônicos, os quais permitem comunicações a distância, com transmissão de som, imagem e cor e, bem assim, a movimentação de objetos por meio de controle remoto, hoje bastante conhecidos, mas inimagináveis em séculos transatos.
Se o Decálogo já estivesse sendo integralmente cumprido aqui na Terra, estaríamos, seguramente, vivenciando a fase da Segunda Revelação, executada pessoalmente por Jesus, a Era do Amor, da Fraternidade, da Caridade e da Paz entre as criaturas e os povos, num mundo muito melhor, porque mais justo, respeitoso, ético e honesto.
N.A.:
(*) Trabalhador e aprendiz da Doutrina Espírita desde a adolescência – Brasília (DF)
REFERÊNCIA:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB. 2022.
Publicado na página https://www.souleitorespirita.com.br/reformador/2023/07/01/o-decalogo/