artigo da semana

-TEOLOGIA DE PAULO À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA-

Por Claudio Fajardo de Castro

 

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Teologia é o estudo sistemático e crítico das questões relacionadas à religião e à fé. A palavra “teologia” deriva do grego “theos” (Deus) e “logos” (estudo ou palavra), significando literalmente “estudo de Deus”. Este campo busca compreender a natureza de Deus, os atributos divinos, a relação entre Deus e os seres humanos, a origem do universo, o propósito da vida, a moralidade e outros aspectos fundamentais da existência humana. (1)

 

A teologia de Paulo é teocêntrica: “Deus” é o tema central de sua teologia. Ele é visto como o Criador de todas as coisas, e Jesus é o modelo supremo que nos conduz à perfeição. O propósito da vida, segundo Paulo, é a salvação, com a humanidade sendo o objeto desse propósito. Essa salvação é alcançada através da perfeição moral. Além disso, a origem do universo é um tema relevante dentro de sua teologia.

 

Ela é rica e multifacetada; alguns dos princípios fundamentais incluem:

 

Justificação pela fé

 

A graça de Deus

 

A união com Cristo

 

O papel do Espírito Santo

 

A igreja como corpo de Cristo

 

A esperança escatológica

 

A predestinação

 

Antes de entrarmos nos temas específicos é bom conceituarmos o que seja salvação sobre o ponto de vista espírita já que esta expressão é muito usada na teologia paulina e em todo Novo Testamento, como já dissemos anteriormente, como propósito da vida segundo Paulo.

 

No cristianismo tradicional, a salvação é entendida como a libertação do pecado e suas consequências. A salvação culmina na promessa de vida eterna com Deus, onde os crentes serão ressuscitados e viverão em comunhão com Ele para sempre.

 

Na Doutrina Espírita a salvação se dá através de um processo contínuo de evolução moral e espiritual, onde há também libertação dos erros e das transgressões às Leis Universais. Assim podemos afirmar que salvação tem o mesmo sentido de remissão dos pecados ou recomposição consciencial. No Espiritismo a salvação é um processo contínuo que culmina na redenção e na perfeição do espírito.

 

1 – Justificação pela fé: Paulo argumenta que a salvação é alcançada pela fé em Jesus Cristo, e não pelas obras da lei. Este princípio é central em suas cartas, especialmente em Romanos e Gálatas.

 

No cristianismo tradicional justificação tem o mesmo significado de salvação. No Espiritismo podemos dizer que justificação é o ato de tornar-se justo, ou, o que tem o mesmo sentido, ajustar-se à Lei de Deus.

 

Romanos 3:28: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.”

 

Gálatas 2:16: “Sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo.”

 

O que podemos entender sobre ser justificado pela fé e não pelas obras da lei?

 

Em primeiro lugar temos que entender o que Paulo entende por fé. A inspiração do Apóstolo dos gentios é o texto de Habacuque: “…o justo viverá por sua fidelidade” (Habacuque, 2: 4).

 

Portanto, para Paulo fé é fidelidade a Deus e ao Seu Messias (Jesus). É preciso ser fiel aos ensinamentos de Jesus exarados no Evangelho, isto é fé, e segundo ele, e a Doutrina Espírita concorda, a justificação vem através desta fidelidade. Por obras da lei devemos entender as obras ligadas aos preceitos religiosos que eram tão comuns no judaísmo àquele tempo, e ainda hoje é nas igrejas católicas e protestantes.

 

2 – A graça de Deus: Paulo enfatiza que a salvação é um dom gratuito de Deus, oferecido a todos os que têm fé em Jesus Cristo.

 

No Espiritismo, a graça é entendida como a manifestação do amor e da misericórdia divina, que se expressa através da assistência espiritual e do amparo aos espíritos encarnados e desencarnados. Allan Kardec, o codificador do espiritismo, não usa o termo “graça” com frequência, mas os princípios espiritistas refletem a ideia de uma benevolência divina que guia e auxilia os espíritos em sua jornada evolutiva.

 

Todavia, é preciso compreender que a graça não é de graça. Paulo enfatiza que a graça é um dom gratuito de Deus, mas também destaca a importância da fé como meio de receber essa graça. A fé, segundo Paulo, não é apenas uma crença passiva conforme já dissemos, mas envolve uma fidelidade ativa aos ensinamentos de Jesus, o que implica um compromisso moral e espiritual.

 

Podemos concluir que a fé é dinâmica e se manifesta através de ações que refletem a fidelidade aos ensinamentos de Cristo. Portanto, enquanto se a graça é um presente de Deus, a fé que a recebe envolve um compromisso ativo e transformador na vida daquele que crê.

 

Efésios 2:8-9: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.”

 

Tito 2:11: “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.”

 

A estas “obras” citadas no versículo já nos referimos como obras da lei, obras do dogmatismo religioso. Podemos ainda dizer que nem mesmo a lei de causa e efeito e nem mesmo a reencarnação salvam, estas são imprescindíveis ao aperfeiçoamento do espírito, mas o que salva mesmo é a fidelidade aos ensinamentos de Jesus. Estes é que nos transformam em Homens de Bem (Kardec) ou Nova Criatura (Paulo).

 

Publicado na página https://espirito.org.br/artigos/teologia-de-paulo-a-luz-da-doutrina-espirita/ em 13/11/2024.