artigo da semana

-JESUS - UM RAIO DE LUZ-

por Sidney Fernandes

 

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

RAIO DE LUZ(1) - Em meio de grande tempestade, inúmeros viajantes se recolheram a enorme casarão que se assemelhava a um labirinto. Porque sentissem medo uns dos outros, cada qual se escondeu nos quartos mais internos e, vindo a noite, em vão procuraram o lugar de saída. Começou, então, enorme conflito. Lamentos. Pragas. Assaltos. Correrias. Pancadas. Crimes nas trevas. Um homem que por ali passava, ouviu os rogos de socorro que partiam do infortunado reduto e, longe de gritar ou discutir, acendeu a sua candeia e passou entre os amotinados, em profundo silêncio. Bastou a luz dele para que todos percebessem os disparates que vinham fazendo, ao mesmo tempo que encontravam, por si mesmos, a porta libertadora.(2)

 

Jesus é o raio de luz que Deus mandou à Terra para servir de guia e exemplo para a humanidade. A singela analogia de Hilário Silva conseguiu sintetizar com fidelidade a verdadeira razão da vinda de Jesus à Terra, tarefa cumprida há dois mil anos, tempo esse que não foi suficiente para definir exatamente quem ele é e o que representa em nossas vidas. Muitos de nós ainda o consideramos o salvador, que absorveu os pecados do mundo, lembrando antigas cerimônias em que animais eram sacrificados para depurar as comunidades de seus pecados. Não obstante ele nunca ter se referido a si mesmo como Deus e sempre ter se apresentado como mensageiro divino, um servo do Senhor, como filho do homem, gerado por um casal, muitos há que o confundem com o Criador. Outros estão convictos de que basta concordar com sua mensagem ou reverenciá-lo com a mera participação em rezas e cerimônias, lembrando-se dele somente nas horas difíceis, quando, na verdade, ele é o Mestre, o irmão mais velho, que veio à Terra com o objetivo de nos ensinar a trilhar o caminho que ele percorreu. E, como fazem os bons professores da Terra, não apenas pregou, mas exemplificou e vivenciou os revolucionários princípios que, corajosamente, trouxe ao mundo, desde a humildade da manjedoura até o sacrifício na cruz.

 

Humildade na manjedoura. Sacrifício na cruz. Humildade e sacrifício, os dois maiores símbolos do Cristianismo. Entre ambos vamos encontrar um roteiro de renovação, apresentado à humanidade com simplicidade e profundidade.

 

 

PROGRAMA BÁSICO - O progresso evolutivo, razão maior de nosso mergulho na carne, depende da interpretação e da aplicação de nossas iniciativas, com as ferramentas que Jesus nos ofereceu, reiteradas pelo Espiritismo, que poderão nos proporcionar agradável e suave jornada. O distanciamento, no entanto, entre o que o Evangelho nos propõe e o rumo que efetivamente escolhermos para nossa encarnação, desaguará na descrença, na indiferença e nas dificuldades oriundas da má escolha.

 

Vejamos, de forma sucinta, porém essencial, algumas das propostas do Cristo, diante das falhas cotidianas, com imagens claras e objetivas retiradas do dia a dia do homem comum. Ressalta Richard Simonetti(3) alguns desses pontos importantes:

 

Aos que, levianamente, julgam o comportamento alheio: cita a passagem da mulher adúltera e lembra que todos temos defeitos, cometemos falhas e não podemos atirar a primeira pedra;

 

Aos que estão inseguros com a presente situação do planeta Terra e temerosos quanto ao futuro da humanidade, recomenda que procuremos o Reino de Deus, cumpramos os mandamentos divinos e tudo o mais será dado por acréscimo.

 

Aos egoístas, egocêntricos e apegados aos bens materiais, apresenta a experiência de um homem ambicioso, que acumulou muito dinheiro, mas não pôde desfrutá-lo, e adverte que não se pode servir a dois senhores, a Deus e às riquezas.

 

Aos que resolvem suas pendências utilizando-se da violência, esclarece que quem com ferro fere, com ferro será ferido e será, portanto, vitimado pela própria violência.

 

E segue o Mestre apresentando singelas comparações e metáforas precisas, que precisam ser conhecidas e internalizadas, pois fazem parte de um programa básico, mínimo, necessário ao cumprimento integral da missão que escolhemos, ao nos candidatarmos a um novo período de permanência no âmbito material.

 

 

ONDE ESTÁ A FELICIDADE?  - Temos procurado a felicidade no lugar errado, distantes do roteiro traçado por Jesus. Nosso GPS existencial insiste em nos conduzir para experiências comprometedoras, quando o essencial está aí, de graça, ao nosso alcance, através do estudo, internalização e aplicação das lições de Jesus.

 

O Espiritismo, qual farol abençoado, que ilumina os escabrosos caminhos humanos, confirma e nos adverte com veemência que Jesus continua sendo o caminho, a verdade e a vida.

 

Embora não seja tarefa fácil, o processo de renovação interior será alcançado, se levado a sério, passando a constituir nossa preocupação constante; se detectarmos em nossa personalidade os pontos de atrito com o comportamento ideal, por nós mesmos prometido; se assestarmos nosso olhai e vigiai em cada gesto, cada palavra e cada atitude.

 

Esse esforço de cumprimento da lei divina nos sintoniza com a Divina Inteligência e resulta retroalimentação do projeto de autoconhecimento, para que nos dispamos definitivamente da vestimenta do homem velho de Paulo de Tarso e vistamos a roupa nova, brilhante, diáfana, do homem novo.

 

Para que isso ocorra, no entanto, será necessário homenagearmos constantemente a figura do Mestre Jesus, fazendo exatamente o que ele faria, se estivesse em nosso lugar.

 

 

REVERENCIANDO JESUS - Tive o capricho de acompanhar a mídia falada, televisada e das redes sociais, nas comemorações do Natal de anos anteriores e, consternado, constatei que de tudo foi falado — festas, comidas, bebidas, promoções, viagens, presentes e Papai Noel —, menos do aniversariante. Exceção feita às esporádicas reportagens citando Jesus, a grande maioria das pessoas sequer lembrou-se dele e preocupou-se, isso sim, com a mesa lauta e com as confraternizações de fim de ano.

 

A triste conclusão a que chegamos é que estamos chegando ao momento em que os homens de bem, de todas as escolas filosóficas e religiosas, ainda que iluminados pela Doutrina Espírita, precisam retomar as atenções de seus corações para a figura do maior guia da humanidade.

 

Na questão 625, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, mentores maiores revelam que Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra, como o mais perfeito modelo da pura lei do Senhor. Podemos afirmar que atualmente Jesus é o modelo seguido pelos homens? Ou optamos por seguir outros modelos e exemplos? Luzes faiscando nas ruas, casas, lojas, presentes, bebidas e comidas especiais. Famílias e amigos reunindo-se em grandes comemorações. Esse é o clima que predomina no mês de dezembro, em comemoração magna, na suposta data de nascimento de Jesus. Tudo preparado? Nada falta para a grande comemoração?

 

Infelizmente poucos se lembram do aniversariante, empolgados com a forma, esquecidos da essência. Mais importante do que as comemorações vazias, regadas a excessos, com sérios prejuízos à saúde e à moral, seria nos lembrarmos do magnetismo divino que emana da manjedoura, que nos levaria a prestar mais atenção ao verdadeiro espírito de Natal, capaz de nos levar de volta às propostas sublimes do Evangelho de Jesus.

 

 

PROJETAR O NATAL PARA O NOVO ANO - Principalmente no Natal, precisaríamos nos concentrar em algumas recomendações do Cristo e projetá-las para o novo ano que vai se iniciar. São ideias simples de serem praticadas, que em nada vão alterar as apressadas rotinas de vida e que vão nos trazer extraordinários benefícios. Vejamos algumas delas:

 

Aos que entendem que a oração tudo resolve, sem esforço: — Orar sempre, sem jamais esquecer o trabalho.

 

Aos que se dispõem a ajudar, impondo o filtro da seletividade: — Doar, sem saber quem será o beneficiário.

 

Aos que se propõem a cooperar, desde que seja por algum tempo: — Servir, sem perguntar até quando.

 

Aos doentes rebeldes que contaminam atendentes com seus sofrimentos: — Sofrer, sem espalhar dores.

 

Aos que obtiveram sucesso em seus empreendimentos: — Progredir, sem perder a simplicidade.

 

Aos que fazem o bem por interesse ou dever: — Semear, sem pensar na gratidão.

 

Aos que impõem exigências para o perdão: — Desculpar incondicionalmente.

 

Aos que ainda não sabem olhar com a pureza das boas intenções: — Aprender a olhar sem malícia.

 

Aos que ainda não aprenderam a ouvir e entender o interlocutor: — Escutar e silenciar.

 

Aos que ainda não conseguiram a dominar a língua: — Falar sem ferir.

 

Aos preconceituosos: — Respeitar, sem considerar credo, gênero, orientação sexual, posição social ou idade.

 

Aos nervosos que ainda não cultivam a resignação: —Exercitar a paciência.

 

É pedir muito? Com um pouco de esforço, balizaremos nossas atitudes com as recomendadas pelo maior mensageiro de Deus que passou pela Terra e nos habilitaremos à felicidade decorrente de seus exemplos e ensinamentos.

 

 

ONDE ESTÁ JESUS? - Se pensarmos bem, há muitos anos temo-nos mantido sistematicamente no erro, ainda apegados às coisas materiais, distantes do esforço do aperfeiçoamento interior. Se nos fosse permitido lembrar de vidas passadas, por certo concluiríamos que estamos dentro de um círculo vicioso de cinco ou mais reencarnações de baixo teor.

 

Dessa forma, como dirigir-se a Jesus, sem regenerar os próprios impulsos? Temos que desfazer as sombras que ainda nos rodeiam, para sentirmos as suas bênçãos.

 

Temos recebido há várias vidas recursos necessários para avançar e sair desse looping negativo e ficamos na mesma, presos como balões cativos, sem aproveitar as oportunidades que os protetores espirituais nos oferecem.

 

Conscientizemo-nos da máxima “ajuda-te que o céu te ajudará”, que pressupõe nossa participação em todas as rogativas que lancemos ao Alto. Se não houver disposição de renunciar às posturas antigas e de mudar alguma coisa em nós, estaremos correndo em círculos.

 

Ao nos candidatarmos à fé, à paz e à presença divina, precisamos endireitar a conduta e a maneira de nos relacionarmos. Só assim abriremos as comportas para permitir que a luz divina entre em nossa alma.

 

Jesus, mesmo com sua imensa superioridade espiritual e o amor que tem por nós, não pode violentar o nosso proceder. Daí a necessidade de retificarmos as estradas em que temos vivido, preparando nossa vida para receber a influência dele.

 

É necessário criar condições para sermos auxiliados pelo Mestre, vencendo nossos maus impulsos e aprumando as atitudes da nossa existência.

 

Quantos de nós ainda nos apegamos ao próprio desespero? Quantos de nós ainda fugimos da luz da paciência? Quantos de nós ainda lamentamos porque não conseguimos perpetrar nossas más atitudes? Quantos de nós, ainda tristes, fugimos, voluntariamente, das bênçãos da esperança?

 

A iniciativa precisa ser nossa, praticando gestos de amor por nós mesmos, porque, sem o divino propósito de aperfeiçoamento, jamais conquistaremos o bem-estar em Cristo.

 

Todos desejamos paz e felicidade. Ambas não são metas e sim maneiras de caminhar. Dependendo de como nos conduzirmos, elas poderão (ou não) nos acompanhar, como tesouros preciosos, e se manter ao nosso lado.

 

 

CRISTO ESTÁ NO LEME - Todos os homens são filhos de Deus e nenhum deles se perderá órfão de consolação e ensinamento, a partir do momento que se apresente de espírito renovado e coração sincero. Não estamos num barco sem comando. O Cristo continua no leme. Ainda que momentaneamente afastados da chama da bondade, para todos chegará o momento da colheita e todo bem semeado os inundará com farta messe de bondade e de generosidade. Para que isso ocorra, no entanto, é preciso vencer o descompasso entre o progresso material e o espiritual.

 

Os paradigmas do egoísmo, do orgulho, do preconceito e da prepotência estão fadados a cair por terra, pois os valores estão mudando totalmente. Tempos estão chegando em que presenciaremos acontecimentos que vão levar toda a humanidade a concluir, de forma irrefutável, pela sobrevivência à vida material e pela consciência de que colherá exatamente o que tiver plantado.

 

Diante do desânimo e da prostração, se olharmos para trás perceberemos o quanto mudamos e quão grande tem sido a influência de Jesus em nossas vidas.

 

É preciso fazer uma análise retrospectiva e concluir quanto Jesus tem operado em nossas vidas. Mais do que nunca, temos que deixar que ele olhe através dos nossos olhos e se faça vivo em nós.

 

— Senhor, que queres que eu faça? — exclamou Paulo diante do divino convite da estrada de Damasco.

 

A exemplo de Paulo, é tempo de nos colocarmos à disposição de Jesus, com boa vontade de aceitar o seu divino convite e abandonarmos o passado de sombras, a fim de nos empenharmos na luta edificante de cada dia. Agindo dessa forma, com o trabalho sincero da cooperação fraternal, receberemos dele o esclarecimento quanto ao que devemos fazer. No entanto, para que isso aconteça é preciso que periodicamente façamos um exame introspectivo e um balanço íntimo para sabermos se estamos caminhando e evoluindo e, finalmente, se o Mestre Divino está inspirando nossas vidas. E mais do que isso, se a sua luz já se encontra em nosso interior, irradiando por onde passamos.

 

Referências:

 

1 – SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão sobre a palestra proferida em 1989, no CEAC – Centro Espírita Amor e Caridade. Bauru (SP), sobre Jesus.

2 – SILVA, Hilário. A vida escreve. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. “O ensino da luz”. 6. Edição. 1987. FEB.

3 – SIMONETTI, Richard. Uma razão para viver. Reflexão sobre a palestra proferida em 1989, no CEAC – Centro Espírita Amor e Caridade. Bauru (SP), sobre Jesus